Retomando a história das cidades pandêmicas, percebemos, nos escritos de Foucault (1987) sobre a Peste Bubônica em Londres (1665-1666), que matou um em cada cinco londrinos; e Camus (1971) sobre a peste bubônica na cidade Oran na Argélia (1940), que ambos os autores identificam que a normalidade cotidiana das cidades cai por terra em meio à pandemia, através de um rigoroso e necessário regime de quarentena.
A condição de epidemia da qual tratam os autores, se desdobrou em um processo de higienização, que envolveu altos custos sociais e econômicos às cidades. A remoção e relocação das populações vulneráveis que viviam em locais insalubres para a periferia, e a posterior abertura de grandes e largas avenidas deram início ao que chamamos de periferização das cidades, marcada pela fragmentação da malha urbana, o que gerou uma desigualdade urbanística, até hoje não resolvida.
Embora tais epidemias tenham acontecido na Cidade Medieval e os problemas de saneamento básico tenham sido em parte sanados, as condições urbanas na Cidade Contemporânea periferizada, se assemelham às condições das cidades daquela época: alta densidade habitacional, alta densidade de moradores nas habitações, falta de saneamento básico, inexistência de sanitários, falta de ventilação, iluminação, dentre outros… Essa composição urbano-arquitetônica tende a ser catastrófica, tanto para populações periféricas, quanto para quem vive nas áreas nobres da cidade, visto que a pandemia diz respeito à saúde coletiva.
Em tempos de pandemia, os problemas habitacionais e sanitários vivenciados cotidianamente pelas populações vulneráveis tomam proporções urbanas, que tendem a ser sentidas por todos, em maior ou menor grau.
Situação posta, em que cidade queremos viver durante e no pós-pandemia? Como a Arquitetura e o Urbanismo podem construir alternativas para Cidades e Habitações? Acredito que a resposta passa pelo efetivo entendimento do Direito à Cidade e o Direito à Habitação, como prerrogativa da saúde coletiva. Nesse sentido, tornar a cidade um ambiente saudável à todos e todas é fundamental, e passa impreterivelmente pela participação popular associada à técnicos multidisciplinares, juntamente ao Poder Público, para execução de políticas púlicas que venham a dar respostas arquitetônicas e urbanísticas, diante de uma cidade em epidemia.
Referências:
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora Vozes, 1987.
CAMUS, Albert. A Peste. Rio de Janeiro: Editora Opera Mundi, 1971.