Na madrugada do dia 22 de outubro, um incêndio consumiu uma edificação importante do conjunto tombado pelo IPHAN, no centro da cidade de Antônio Prado, RS. A casa de madeira, característica das construções de imigrantes italianos, estava situada na esquina da Av. Valdomiro Bocchese com a R. Osvaldo Hampe, um dos pontos imobiliários de maior valor comercial da cidade, e encontrava-se em fase de Levantamento Cadastral planialtimétrico para projeto de restauro. Há indícios de incêndio criminoso, já que foram encontrados no local um frasco com líquido combustível e um “Boa Noite” (repelente para mosquitos). A Superintendente do IPHAN Ana Lucia Meira e o chefe da área técnica Eduardo Hahn estiveram pessoalmente no local, e acionaram as polícias Civil e Federal para investigar o caso. O arquiteto Iran Rosa, Editor Responsável do IAB-RS, se manifestou sobre o assunto: “…é preciso atentar o quanto mais necessário for ao patrimônio brasileiro e da humanidade. É uma vergonha para o país não termos condições de preservá-lo e mais lamentável ainda é não termos sequer condições de salvá-lo! Existem casos monumentais no mundo para mostrar (não-mostrar, pois já não existem mais…) o quão é importante e fundamental preservar a memória da humanidade! A atenção e ação de todos, cidadãos e governantes, ao patrimônio, à vida e memória numa consciência inequívoca é o nosso desejo e nossa ambição. Aqui no Rio Grande do Sul, aqui no Brasil, aqui no planeta.” O presidente do IAB-RS, arquiteto José Albano Volkmer, lamentando o sinistro, anuncia o próximo editorial: “por mais que se averigüem as causas, um valioso bem já está perdido”, onde questiona: “como está o nosso patrimônio?!”, prosseguindo:
“Diante de tal absurdo o IAB-RS conclama a todos e as Instituições Públicas responsáveis pelo patrimônio cultural, particularmente a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, bem como a comunidade rio-grandense, para somar esforços para elucidar este lamentável ato de destruição do patrimônio edificado nacional. Por mais que se averigüem as causas, um valioso bem já está perdido. Digno acervo do patrimônio cultural da imigração italiana no Rio Grande do Sul, lamentavelmente para sempre jogado no lixo da história, deixa mais uma chaga aberta na memória dos diversos segmentos étnicos formadores da cultura brasileira, dentre outros bens já destruídos e de inestimável valor da mesma cidade gaúcha.
Até quando teremos de assistir atônitos tais atos de insanidade social e cultural? Em nome de que valores são praticados atos de vandalismo ao patrimônio do Brasil? Deseducação e desvirtuamento de valores imateriais dos responsáveis é o diagnóstico que pode ser feito deste ato de loucura, cuja suspeita de crime está sendo investigada. O povo de Antônio Prado e a comunidade brasileira não mereciam mais este atentado ao desenvolvimento cultural de nosso país. Esperamos, pois, o devido esclarecimento e o cumprimento da legislação regulamentadora da Constituição da República Federativa do Brasil, no interesse maior dos cidadãos brasileiros”.
Artigo: “A Cidade Zumbi: especulação e corrupção contra o espaço público e a moradia”
O texto foi escrito pelo arquiteto e urbanista Tiago Holzmann da Silva e publicado no jornal Matinal, no dia 10 de janeiro de 2025.