Freddy Mamani Silvestre e Claudia Pacheco Araoz falaram sobre a originalidade do trabalho do profissional, bem como da identidade e da resistência do povo boliviano. O evento foi promovido pelo Instituto Cervantes em parceria com o IAB RS e a Bienal do Mercosul, e ocorreu no IAB RS dentro da programação das Quartas no IAB
Com auditório lotado, o boliviano Freddy Mamani Silvestre encantou o público ao mostrar a sua trajetória profissional. O pedreiro, engenheiro civil e arquiteto, expoente der um estilo denominado Naoandino, falou sobre sua carreira, suas referências, sobre como a arquitetura pode transformar o ambiente urbano a partir de uma perspectiva estética e funcional. A gestora e pesquisadora cultural boliviana e diretora da La Plurinacional XXI, Galeria Plurinacional de Arte Contemporânea, Claudia Pacheco Araoz dividiu a fala com Silvestre, ressaltando o contexto político do seu país. O evento foi promovido pelo Instituto Cervantes em parceria com o IAB RS e a Bienal do Mercosul.
Freddy Mamani Silvestre Nasceu em 1971, em Catavi, um vilarejo rural da Bolívia. É descendente do povo andino pré-colombiano aymara. Trabalhou como pedreiro junto com seu pai, e mais tarde estudou engenharia civil e arquitetura. Seu trabalho é marcado por prédios singulares e coloridos, muitos com formatos excêntricos, concebidos a partir de estéticas diversas: arquitetura moderna, barroco latino-americano e chinês, andino, folclórico, futurista, de anime e ficção científica. “Neoandino, essa nova arquitetura, é inspirado em elementos bastante representativos, especialmente no uso das cores dos têxteis andinos e amazônicos. Elementos ancestrais e muito particulares, que são elementos que estamos recuperando dentro dessa nova tendência arquitetônica”, disse.
“Minha vida foi bastante dura, e desde pequeno eu sonhava em ser algo na vida. Para mim o mundo era horizontal, e eu pensava que deveria conhecer diferentes lugares se quisesse ser algo. Esse sonho se cumpriu”, relembrou ele, que passou dificuldades na infância, insistindo em uma carreira dita para ricos. “Não queria que a arquitetura, no entanto, fosse parte da elite”, enfatizou.
Em sua fala, Claudia Pacheco Araoz comentou sobre os significados do trabalho de Silvestre. “Essa funcionalidade tem que estar conectada com o comercio, com a vida e com a festa, porque não podemos conceber, a partir de nossa latinoamericanidade, desde nosso processo emancipatório, em que o Bolívia entrou com a nova Constituição, uma vida que esteja desconectada da festa, do comercio e da nossa habitação. E essa é, eu acho, o maior aporte de Freddy a essa visão do futuro de nossos povos, nossas civilizações e das nossas tecnologias”, disse.
A co-presidente do IAB RS, Jéssica Neves, que mediou o encontro, destacou que a arquitetura de Silvestre representa rebeldia. “De fato é preciso ter coragem para quebrar paradigmas. Então o trabalho dele representa a emancipação do seu povo e a sensação de pertencimento”, finaliza.