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Artigo: Da ordem ao caos, Do caos à lama

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Confira essa importante análise do Planejamento Urbano de Porto Alegre, escrito em formato de artigo pela copresidente do IAB-RS, Clarice Misoczky de Oliveira, publicado no jornal Zero Hora, na edição de 15 de agosto de 2023.

 

 

 

Abaixo confira o artigo em nova opção de leitura:

Da ordem ao caos, Do caos à lama

Por Clarice Misoczky de Oliveira, copresidente do Instituto de Arquitetos do Brasil e professora do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da UFRGS

A prefeitura de Porto Alegre considerou encerrada no mês de julho a leitura da cidade, etapa referente ao diagnóstico para revisão do plano diretor, o PDDUA. O trabalho vem sendo desenvolvido com o aporte produzido pela Ernest Young, empresa consultora contratada por R$6,5 milhões. A empresa, que não possui experiência em planos diretores, apresentou o relatório da etapa de leitura com informações da gestão municipal, estudos de décadas passadas e reportagens de jornal, sem dados novos ou atualizados. Discute-se muito sobre os impactos negativos da falta de dados atuais. Como podemos planejar, gerir e monitorar a cidade sem conhecer a sua realidade? Os investimentos robustos na contratação da consultoria viriam para resolver esta questão. Infelizmente, a expectativa não foi atendida.

Vê-se o setor imobiliário propondo adensamento construtivo para além da infraestrutura oferecida

Isso reflete-se no modelo espacial proposto, míope, ignorando dados importantes do setor econômico, ignorando a população que vive na periferia e mirando a fórmula do sonho dourado de cidade produtiva voltada para um mercado elitizado. Deixaram claro que não conhecem a cidade de Porto Alegre. Neste ciclo conhecemos, também, as inspirações que os conduzem: ordem sem design e caos planejado. Mas o que isto quer dizer? Promover a ordem da cidade sem planejar ou planejar o caos?

O estranhamento tem lógica: a ordem sem planejamento existe, organizando as liberdades do mercado imobiliário em detrimento da qualidade de vida. O Censo IBGE 2022 revelou a queda populacional e o aumento de unidades habitacionais em Porto Alegre. Mas para quem o mercado está construindo? Como isso se sustenta? A resposta é simples, porém nada singela: imóveis para compra de investidores e empreendimentos associados aos fundos de investimento imobiliários na bolsa de valores. É o mercado artificial exercendo impacto direto no ambiente construído, gerando imóveis vazios. Nos processos participativos da revisão, vê-se o setor imobiliário propondo adensamento construtivo para além da infraestrutura oferecida. Caso se consolide, veremos uma ordem atendendo às finanças de poucos em decorrência do caos de uma cidade vivida por muitos. O caos de fato planejado (!) para uma cidade cada vez mais suscetível a ciclones extratropicais, que, sem infraestrutura suficiente, irá virar lama…

IAB - RS

Por: Diretoria Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB

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