O Brasil parou neste domingo, com profunda tristeza, diante de uma das maiores tragédias ocorridas na história do país, envolvendo adolescentes que procuravam diversão em uma casa noturna. Perplexos, tentamos entender e buscar alguma explicação por que este tipo de tragédia acontece.
Uma rápida análise da nossa legislação permite afirmar, com tranquilidade, que a vida de mais de 200 jovens poderia haver sido poupadas se as leis, normas e procedimentos existentes e em vigor fossem minimamente cumpridos. Todas as construções públicas e privadas, por exigência da lei e para a segurança de seus usuários, devem ser projetadas e executadas por profissionais especializados, com formação e competência técnica comprovada. Entretanto sabemos que nossa prática não é esta. Faz parte da cultura de nossa sociedade, do nosso dia-a-dia, o improviso, a vista grossa, o jeitinho, tanto para a legislação que seguidamente “não pega”, como para o respeito ao trabalho técnico dos profissionais especialistas. Quantas vezes dirigimos acima da velocidade máxima permitida? Nos automedicamos? Compramos produtos piratas ou de contrabando? Fazemos uma reforma por nossa conta e retiramos um pilar do meio de um edifício? Burlamos alguma regra para conseguir um benefício pessoal ou profissional?
Nossa sociedade, cada um de nós em maior ou menor grau, é responsável por esta tragédia, pois a nossa cultura é alimentada diariamente por este tipo de comportamento. Ou será que podemos todos julgar de consciência limpa o segurança da danceteria que bloqueava a saída cumprindo as ordens do patrão? A ganância do empresário que submete a segurança das pessoas à seus anseios de lucro? A irresponsabilidade na busca de notoriedade da banda que usava explosivos em locais fechados? Os políticos que “flexibilizam” regras em favor do “desenvolvimento” e da geração de empregos? Sejamos francos, se não fosse a tragédia, estaríamos despreocupados e estas burlas tão comuns não seriam um problema e muito menos um motivo de espanto.
Em solidariedade com as famílias das vítimas, fazemos esse convite à autocrítica para que a sociedade atente para a importância do cumprimento das leis e normas técnicas, do respeito ao trabalho dos profissionais e da exigência de fiscalização rigorosa dos órgãos públicos, mas principalmente, para refletirmos sobre nossas atitudes e comportamentos diários muitas vezes indiferentes à ilegalidade e ao jeitinho.