Bate-papo destacou o levantamento de danos, a análise de dados e a captação de recursos, com a participação de profissionais ligados ao setor.
O último encontro promovido pelo IAB RS em função do mês do patrimônio ocorreu na noite de quarta-feira (4), na sede da entidade, em Porto Alegre, e destacou a função do profissional do setor diante do contexto de emergência climática. Entre os tópicos abordados, estavam a análise de dados e o mapeamento de danos. A mediação foi feita pelo Arquiteto e Urbanista Oritz Adriano Adams de Campos e contou com a participação da Arquiteta e Urbanista Paola Maia Fagundes; do Arquiteto e Urbanista Lucas Volpatto; do Arquiteto e Urbanista e diretor de cultura adjunto do IAB RS João Felipe Chaves Barcellos Wallig; e da Arquiteta e Urbanista e Conselheira Superior do IAB RS Martina Lersch.
Campos abriu o evento destacando que “hoje fazemos o fechamento das atividades para essa data tão importante, com a atuação profissional diante das catástrofes climáticas. São quatro grandes falas de profissionais que, além de excelentes técnicos, são militantes na causa do patrimônio”, disse.
A Arquiteta e Urbanista Paola Maia Fagundes apresentou o processo metodológico para cadastro e mapeamento de danos de edificações atingidas pelas enchentes. “O processo de reconhecimento de uma edificação passa por diversas etapas. A identificação e o reconhecimento do bem é um processo importante, que envolve pesquisa histórica, conhecimento, levantamento cadastral bem desenvolvido e análise de tipologia”, conta. Segundo a arquiteta, no caso das enchentes esse processo não é realizado da maneira convencional. “A água é o principal agente de degradação, e cada ação vai ter um impacto diferente na edificação. No caso de Porto Alegre a água estava contaminada pelo esgoto, cujas bactérias e outros agentes, como sais, contribuíram para acelerar essa a degradação. São danos que podem aparecer de imediato ou a longo prazo”, destaca.
Na sequência, o arquiteto Lucas Volpatto apresentou o processo de trabalho no prédio do Pão dos Pobres, sob o título Memória Resgatada. “Resgatar o acervo deles me transformou nesse período de enchente. É um outro tipo de resgate, da memória, que deve ser tão considerada quanto salvar uma vida, pois isso nos faz ser parte de algo”, ressalta. Após a inundação de maio, o prédio precisou passar por um trabalho de estabilização de solo, dadas as condições arenosas na região, e corrigir a estrutura do prédio que foi tombado no ano de 2004. Um processo de restauro já estava em andamento desde 2017, sob supervisão de Volpatto, “De uma certa forma, o que aconteceu vai ser benéfico a longo prazo para corrigirmos problemas existentes até então. Tivemos, sim, uma grande perda material, mas também conseguimos salvar itens importantes de um acervo riquíssimo. Podemos fazer da catástrofe uma grande lição”, concluiu.
O arquiteto e diretor cultural adjunto do IAB RS João Felipe Chaves Barcellos Wallig apresentou o trabalho que realiza na Vila Flores, localizada no chamado 4º Distrito, uma das regiões mais afetadas pelas enchentes de maio. “O local originalmente foi projetado para servir como casas de aluguel para trabalhadores da indústria da região, hoje centro cultural, e nunca passou por um processo de restauro detalhado e sistemático como os colegas citaram. Em algum ponto isso acabou sendo positivo, como o fato da argamassa nas paredes externas não ter camada de tinta que poderia isolar o escoamento da água”, detalha. Wallig apontou diversos pontos que foram atingidos e o trabalho multidisciplinar que é realizado para reduzir os danos. “São danos materiais que estão nesse lugar afetivo de memória. Ainda temos dias muito úmidos e solo encharcado, então a estratégia é fazer esses ambientes respirarem para que a água seja completamente eliminada”, conta.
Martina Lersch relembrou sua dissertação de mestrado em engenharia civil na área de construção, em que estudou aspectos como a umidade e outros danos nas paredes das edificações do patrimônio cultural de Porto Alegre. “Eu queria investigar por que esse tipo de dano acontecia, então minha dissertação é uma contribuição para a identificação dos principais fatores e mecanismos de degradação nesses espaços”, ressalta. Na época analisou 50 edificações por meio documental. A pesquisadora sempre defendeu que a documentação de danos é fundamental, porque o técnico vai acessar essa documentação no futuro e vai entender os processos que já foram realizados em determinada edificação. Ainda sobre sua pesquisa, Martina aponta que “na época eu tinha uma subseção sobre inundações, que era um parágrafo apenas. Acredito que hoje isso renderia um livro, então fica a provocação”, finaliza.
O bate-papo completo pode ser assistido no canal oficial do IAB RS no Youtube, clicando aqui.