O assunto foi apresentado pela arquiteta Caroline Minetto, que destacou os principais pontos envolvendo a modalidade e os possíveis contextos de uso.
Foto: Rochele Pizzolotto Lyrio
Aproximar a indústria da construção com o arquiteto. Esse foi o ponto de partida da palestra “A construção modular na arquitetura”, ministrada por Caroline Minetto, durante mais uma edição das Quartas no IAB. O encontro aproximou profissionais, estudantes e curiosos do tema, no Solar do IAB, no Centro Histórico de Porto Alegre.
Caroline Minetto, arquiteta e urbanista Pós-graduada em gestão de Projetos e Obras e Mestre em Projeto Integrado na Construção do Edifício, conta que “é preciso entender qual o papel do arquiteto diante dessa nova industrialização, bem como desmistificar um pouco a técnica”, disse. A construção modular é um método de construção em que os edifícios são feitos a partir de módulos pré-fabricados em ambientes controlados e depois montados no local da obra. Ela surgiu a partir da urbanização acelerada, da pressão demográfica, e da necessidade de construir mais rápido e de forma econômica.
A modularidade é definida em termos de separabilidade e combinabilidade de componentes. “Tem uma analogia muito boa que é a de legos. É como se a gente tivesse as peças, que são colocadas ali para a gente, e diante disso podemos criar qualquer coisa com essas peças pré-definidas. Então, se eu te der um número x peças de legos de diferentes tipos e der para outra pessoa, serão construções diferentes”, explica.
A ideia da construção modular é essa, que tenha uma variação, mas dentro de módulos iguais. E esses módulos podem ser desde 3D, que é o módulo total; 2D, que são paredes e lajes; e 1D, que são os componentes de viga e pilares. “Enquanto construção industrializada temos muitos benefícios, entre eles a qualidade de fábrica. A gente tem, ainda, a vantagem da rapidez quando levamos isso para o local. Outra vantagem é a sustentabilidade por conta do menor desperdício dos resíduos, e também por ser ter uma maneira mais mecânica de montagem, com o uso de parafusos ao invés de produtos químicos”, conta.
Entre as desvantagens do uso da construção modular na arquitetura está o custo final, porque ela passa por todo um processo de ambiente de fábrica. “A adoção inicial de tecnologias e processos modulares pode ser cara, o que pode ser um obstáculo significativo. Temos também os desafios técnicos, como a integração de sistemas heterogêneos e a necessidade de padronização de componentes modulares, que são complexos”, exemplifica. Outros desafios enfrentados são a resistência cultural em abandonar métodos tradicionais em favor de abordagens inovadoras, e a logística, porque o transporte e a montagem dos módulos requerem um planejamento cuidadoso, considerando fatores como tamanho e peso dos módulos.
Segundo a arquiteta, nos próximos anos, entre os países que poderão ter um maior impacto a partir da construção modular estão a China, que possui 10% dos novos projetos usando construção modular e alta demanda por habitação urbana; e EUA e Canadá, que tem 5% a 6% do mercado de construção e crescimento maior apontado em hotéis, hospitais e moradias estudantis, impulsionada por escassez de mão de obra e custos elevados. No Brasil a adoção é lenta, mas crescente em habitação social, representando menos de 2% do mercado nacional.
“A construção modular está aqui para a gente tirar esse proveito dela em relação às peças, mas é importante dizer que a criação continua sendo livre. Em contextos específicos, como o do Rio Grande do Sul durante as enchentes do mês de maio, por exemplo, podre ser uma excelente solução. Poderia ser mais fácil de realocar famílias desabrigadas com a qualidade merecida. Isso tem sido muito discutido no Brasil, e também no mundo todo, inclusive com esses pós-desastres envolvendo guerras, não só os desastres naturais”, finaliza.