Muitos destes avanços – pelo menos em escalas relativas – tem nos tirado da linha de risco da fome, doenças e guerras, mas este texto não trata destes avanços em grande escala. Trata da escala do dia a dia e do cotidiano das pessoas, onde a concorrência, a velocidade das coisas e as decisões urgentes, tem nos mantido alertas num clima de aparente tensão e medo.
Enquanto divulgamos e festejamos a implantação e a crescente produção da indústria 4.0, o desemprego cresce de forma alarmante, deixando sem ter o que fazer grande parte da capacidade humana de produção. O custo social deste fenômeno precisa ser mensurado com a mesma eficiência com que o mercado de ações comemora seus grandes resultados. Estamos presenciando índices de desigualdade social capazes de nos levar a conflitos civis de grande escala, como temos presenciado em nosso país.
A velocidade de processar dados digitais e projetar cenários virtuais deveria nos alertar para a importância de não vivermos na velocidade dos computadores, como se tudo fosse urgente, invertendo valores e transgredindo o bom senso, mas planejar com conhecimento de causa e consequência as nossas ações de médio e longo prazo, buscando acesso básico àquilo que agrega qualidade de vida à população. Vivemos um momento de produção cultural acrítica, bombardeados por muita informação, falsa e verdadeira, no entanto nunca produzimos tão pouco conhecimento capaz de nos tirar da zona de urgência. É o paradoxo da tecnologia digital: quanto mais geramos e acumulamos dados, menos sabemos como transformar estas informações em conhecimento. E é o conhecimento o vetor capaz de nos fazer avançar na definição de padrões de qualidade de vida.
Não são as ferramentas digitais, enquanto processadores matemáticos, que agregarão qualidade ao conhecimento. Poderão acelerar o cruzamento de informações e modelar novos padrões de vida, mas sempre será preciso que alguém interprete, traduza e transforme estas informações em conhecimento alinhado com as verdadeiras demandas da sociedade que estamos inseridos. A caneta sobre o papel nas empresas, o giz sobre o quadro verde na sala de aula ou o lápis de carpinteiro riscando uma parede no canteiro de obras, são suficientes para se expressar uma ideia inovadora e empreendedora, quando se tem uma verdadeira ideia.
Inovação, empreendedorismo e sustentabilidade se tornaram ferramentas de propaganda da sociedade atual. Mas elas não nascem em qualquer lugar, é preciso que o caminho esteja pavimentado com foco, investimento e cultura experimental. Para acertar em cheio é preciso experimentar muito. A experimentação está no cerne dos processos criativos inovadores e empreendedores. Experimentar exige autonomia e coragem e, por isso, é a base dos grandes acertos e das ideias inovadoras, e isto tem muito valor no mercado atual ou no mundo criativo compartilhado.
As demandas urgentes que possuímos como povo, sociedade e nação nãodevem ser tratadas com abordagens superficiais de curto prazo, por mais midiáticos que possam parecer os seus efeitos, mas com ações maduras de planejamentocriativo, inovador e empreendedor antevendo a qualidade de vida que queremos ter eo planeta em que queremos viver. Distanciar o olhar para esta realidade significa nos condenar a viver continuamente, década após década, usando as nossas melhores energias intelectuais e produtivas apenas para consertar a nossa própria falta de ação e visão atuais e a falta de planejamento estratégico das gerações que nos antecederam.