A implantação do Metrô em Porto Alegre e as transformações que a capital gaúcha sofrerá com esse projeto foram tema de um caloroso debate promovido pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RS) na noite da última quarta-feira (20/06) na sede da entidade. Durante duas horas, mais de 70 pessoas lotaram um dos auditórios no Solar do IAB para assistir apresentações, ouvir questionamentos e depoimentos dos palestrantes convidados.
Na mesa, mediada pelo jornalista André Machado, da Rádio Gaúcha, estavam o presidente do IAB-RS, Tiago Holzmann da Silva; o presidente da Trensurb, Humberto Kasper; o coordenador técnico do projeto metrô, Luís Cláudio Ribeiro; e os professores Júlio Celso Vargas, da FA/UFRGS e Marília Dalila Bohrer, da FAU/PUCRS.
Um dos pontos altos do debate foi o Concurso Público para implantação do projeto. “Há uma preocupação pela urbanização do entorno da estação, para que esta não seja encarada apenas como uma obra de engenharia, mas que consiga juntar a questão da arquitetura e urbanismo. Com certeza o metrô estará contribuindo para uma cidade melhor”, opinou a professora Marilia Dalila Bohrer.
O presidente do IAB-RS destacou que é necessária uma discussão pública sobre o planejamento da cidade e a reestruturação do sistema geral do transporte. Para ele, um dos problemas atuais é a questão cultural na cidade: “estamos em um momento que o país e as cidades têm recursos, mas continuamos a reproduzir as práticas de um período em que não tínhamos verbas, cometendo os mesmos erros, caindo nas mesmas armadilhas”, criticou Silva.
Para contribuir com bons exemplos de projeto urbanos, o presidente da Trensurb, citou as linhas de metrô de Tóquio e Lisboa, que são projetadas para reestruturar as cidades. “Cada estação é um grande negócio associado, como lojas e outros empreendimentos. Lisboa planejou linhas de metrô que iam para regiões completamente descampadas, com o objetivo de construir a cidade naquela direção”, explicou Kasper. Ele afirmou que essa filosofia de projeto já está sendo aplicada nas estações em Novo Hamburgo. Kasper também disse que o 4º distrito de Porto Alegre, é sem dúvida, um espaço futuro de reconstrução da cidade. “Nesse aspecto, precisamos pensar em estações de metrô que cumpram funções na sua individualidade, pensando nos detalhes urbanísticos de cada uma”, declarou o presidente da Trensurb.
Já o professor Júlio Celso Vargas, acrescentou que a revitalização do 4º Distrito deve envolver também a região da Avenida Farrapos e entorno. “Eu gostaria de chamar atenção para o conjunto edificado da Farrapos, que tem um certo gabarito, uma linguagem que registra um período histórico. Seria interessante pensar em uma atração turística na região, um circuito paisagístico, tentando retomar esse caráter que ela já teve um dia”, sugeriu o professor da UFRGS.
Outro ponto, do debate foi o sistema de transporte integrado. O coordenador técnico do projeto metrô, Luís Cláudio Ribeiro, disse que a prefeitura de Porto Alegre está propondo uma rede de transporte que considera treze estações para o metrô. “Isso não significa que não possa, como o decorrer do processo, determinar a necessidade de estações que não haviam sido consideradas no projeto inicial”, disse Ribeiro. Para ele, é preciso entender que uma rede integrada não pode ser concebida sem sistemas de ônibus sobrepostos. “O que nós consideramos é o corte de linhas de ônibus ao longo do eixo. A discussão que precisa começar é a respeito do que queremos de cidade para essas avenidas que terão metrô”, afirmou Ribeiro, que na ocasião representou a Prefeitura de Porto Alegre e EPTC. Questionado pelo mediador, ele ainda afirmou que não está descartada a possibilidade de realização de concurso público para as estações do Metrô, como reivindicam os arquitetos.
Tiago Holzmann da Silva encerrou o debate com otimismo dizendo que hoje temos boas oportunidades de construir esse projeto. “Podemos aproveitar os recursos financeiros e humanos que dispomos no momento, para que nossos investimentos resolvam os problemas de maneira integrada. São muitos os desafios, mas se discutirmos isso de forma pública e democrática podemos ter um belo projeto para a cidade”, concluiu o presidente do IAB-RS.