Maria Elisa Baptista, presidente nacional do IAB, abriu o evento destacando que o IAB RS sempre foi um exemplo para o todos os departamentos, principalmente pela sua forte atuação política. Ela recordou a gestão do arquiteto José Albano Volkmer que foi seu primeiro contato no Rio Grande do Sul, quando na época foi convidada para participar de um debate. “Mesmo em tempos opostos à minha memória encontrei um IAB democrático e propositivo”, destacou.Para ela, hoje dói muito ver a tragédia da pandemia em Porto Alegre. “Sabemos que a luta de vocês é muito árdua, e quero deixar minha solidariedade, meu afeto e meu carinho, e dizer que vamos superar isso. Vocês do IAB RS são uma força para a gente”, reforçou Maria Elisa.
Mas para a presidente nacional é preciso destacar coisas boas que estão acontecendo neste momento, como a participação e voz forte de mulheres em diversas lutas. “Chegamos aqui porque sempre trabalhamos a vida toda com muita coragem”, destacou. Para ela, o futuro do IAB e das entidades está apoiado nisso e precisamos compreender que tragédias e possiblidades estão aí.
“A arquitetura até então foi de ricos para ricos e o mundo não é esse. Temos que reconhecer e identificar que o foco principal é a vida em todas as instâncias. Não adianta ter uma arquitetura magnífica, se não criarmos situações políticas para mudanças. Fácil não é, mas é possível, assim imagino o futuro do IAB”, acredita Maria Elisa.
Finalizando sua fala, ela lembrou que o ofício do IAB é também ter o papel educador. “O grande fantasma que a gente tem que lutar é com o mercado financeiro, que é um buraco negro e nada mais é passível de ser feito. Vamos juntos e coragem!”.
A mediadora do evento, a arquiteta Clarice Oliveira, disse que, embora seja um dia de comemoração, não podemos deixar de lembrar o que está acontecendo no país. Clarice relatou momentos árduos que presenciou em Porto Alegre diante de manifestações de grupos contraditórios com a realidade trágica na saúde. Mas também falou emocionada sobre algumas alegrias, como a de mergulhar no acervo da arquiteta Enilda Ribeiro, e ter conhecimento de muitos documentos e ações importantes na história do IAB na gestão de Telmo Magadan.
A arquiteta ainda reforçou a participação das mulheres na entidade. “Temos gerado uma representatividade importante no IAB através de comissões. Aproveito para saudar as mulheres na equidade de gênero que foram imprescindíveis no IAB”, destacou Clarice.
O presidente do IAB RS, Rafael Passos, também vice-presidente do IAB Brasil, cumprimentou os participantes trazendo alguns relatos. O IAB RS, assim como outros departamentos que foram sendo criados fora do eixo Rio-São Paulo, assumiram um protagonismo importante nacionalmente. O departamento Rio Grande do Sul foi criado em 1948, e logo também foi criada a carta de direitos humanos.
Para ele, até hoje, a força do IAB não está no número de associados, e sim na independência da entidade que permite uma forte atuação política. Passos, recorda ainda, que em 1948, o IAB já começou organizando o II Congresso Brasileiro de Arquitetos (CBA) na capital gaúcha. E depois de 50 anos, voltou a organizar em Porto Alegre 21º CBA, tendo a importante colaboração do arquiteto Ivan Mizoguchi, ex-presidente do IAB, que esteve na frente das bases conceituais do congresso. “O IAB RS está presente com sua representatividade sempre nos momentos de crise da sociedade”, destacou.
Sobre a trajetória da entidade, Passos disse que figuras como Edvaldo Pereira Paiva e Demétrio Ribeiro, foram nomes fundamentais no planejamento urbano da cidade dentro da prefeitura de Porto Alegre. O presidente citou que nos anos 70 os movimentos sociais disputavam o planejamento urbano, e diziam que não era só para os técnicos, e sim um instrumento político. “Hoje, temos como exemplo disso, o recente projeto Planos Populares, como movimento de base, idealizado pelo IAB RS e desenvolvido em algumas regiões de planejamento da cidade. “Nós abrimos o Solar do IAB RS para movimentos e sociedade a fim de fortalecer o direito à cidade”, complementou Passos.
No encerramento da fala, ele lembrou um momento importante no começo de sua atuação dentro do IAB RS. “Em 2006 organizamos o Encontro Estadual de estudantes de Arquitetura, que foi realizado dentro de um centro esportivo da capital, mas para isso, precisávamos do aval de uma entidade de arquitetura. Liguei para o Iran Rosa, presidente na época, que prontamente assinou o contrato. A confiança que ele depositou em mim me deixa honrado. Para finalizar, dedico esse aniversário a ele, que neste momento luta no hospital contra a Covid19”, disse emocionado.
O conselheiro vitalício do IAB, Telmo Magadan, também ex-presidente nacional da entidade, disse que foi uma grande alegria participar deste momento histórico. Recentemente, ele também teve a honra de fazer a leitura do manifesto de 100 anos do IAB Brasil, ao lado de Maria Elisa Baptista.
“Analisando hoje, é interessante que as motivações que me fizerem ingressar no IAB na década de 60, são as mesmas no ano de 2021”, contou Magadan. Para ele, a sociedade humana teve um fantástico avanço tecnológico, mas não conseguiu mudar a desigualdade social, o papel do estado, a ocupação desordenada do espaço urbano e a carência habitacional. Para ele, as cidades produziram mais desigualdades e desqualificaram o espaço urbano.
Magadan destacou que o IAB é uma sociedade participativa e atuante na trajetória do Rio Grande do Sul. Em 2021, o IAB chega consolidado com núcleos em diversas cidades do Estado liderados por uma nova geração. “É emocionante ver a participação de mulheres na frente do IAB, e de termos hoje a primeira mulher na presidência nacional. Isso marca a valorização do trabalho feminino na formação da sociedade brasileira e no nosso IAB”, afirmou o arquiteto.
Em seu relato, Magadan lembrou ainda do protagonismo do IAB RS nos concursos públicos de arquitetura, como o Palácio Farroupilha, Palácio da Polícia, Assembleia Legislativa, Colégio Estadual Júlio de Castilho e o Aeroporto Salgado Filho. Também foi lembrado por ele, que diversos arquitetos do IAB atuaram na discussão do Plano Diretor de Porto Alegre e da questão profissional.
Magadan acredita que os arquitetos não resolvem os problemas, mas podem contribuir para mitigar situações urbanas. “Jamais vamos mudar a estrutura social e econômica da nossa política, mas temos responsabilidades como uma entidade independente. Nas Diretas JÁ produzimos um manifesto que teve muito destaque na época”, citou como exemplo.
Para encerrar, Magadan disse que não poderia deixar de citar nomes da primeira geração como Demétrio Ribeiro, Carlos Maximiliano Fayet, Edgar Graef, Miguel Pereira, Salma Cafruni, Eneida Ribeiro, Arnaldo Knijinik, David Bondar e Ivan Mizoguchi, que tiveram um papel fundamental na formação do IAB e nas na formação profissional dos arquitetos gaúchos. “O IAB RS completa 73 anos num protagonismo importantíssimo em nível nacional. Somos uma rede e continuamos sendo fortes, e isso me enche de emoção e orgulho. Tenho certeza de que daqui 100 anos o IAB continuará na sua luta”, encerrou Telmo Magadan.