O evento, que ocorreu na sede da entidade, em Porto Alegre, destacou o impacto das chuvas sobre bens materiais e imateriais em diversos municípios do Estado.
Os eventos climáticos que resultaram em enchentes por todo o Rio Grande do Sul no mês de maio têm provocado debates em todos os setores da sociedade. Nesse contexto inédito, o patrimônio cultural se insere na discussão de forma urgente, com o objetivo de promover sua importância e, também, discutir formas de reduzir o impacto das perdas e pensar em prevenção contra eventos futuros. O tema foi pauta de encontro que ocorreu na sede do IAB RS, em Porto Alegre, com diversos especialistas do setor de preservação do patrimônio.
Participaram a arquiteta e Chefe de Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc) – ligado à Secretaria Municipal da Cultura, Debora Regina Magalhães da Cosa; o arquiteto e urbanista, Superintendente do IPHAN-RS, Ex-Presidente do IAB RS e Ex-Vice-Presidente do IAB Nacional, Rafael Passos; o arquiteto e Diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), Carlos Renato Savoldi; o antropólogo e Analista da equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), Yves Marcel Seraphim; e o arquiteto e urbanista, coordenador da Comissão Especial de Patrimônio Cultural CPC e integrante da Câmara de Patrimônio Cultural do CAU/BR, José Daniel Simões. A mediação foi feita pela arquiteta e urbanista, Mestre em Planejamento Urbano Regional, Pós-graduanda em Gestão de projetos de Restauro, e Integrante da Comissão do Patrimônio do IAB RS, Carla Priscila Brito.
O diretor adjunto de cultura do IAB RS, João Felipe Wallig, destacou que, no momento que a gente se encontra, o patrimônio cultural já enfrenta desafios corriqueiros pela sua preservação, no entendimento completo e envolvimento da sociedade na preservação. “Esse é um momento bastante importante por reunirmos as diferentes instâncias que são responsáveis pela preservação do patrimônio. Dos órgãos públicos em nível federal, o IPHAN; em nível estadual, o IPHAE; e em nível municipal o EPAHC, e ainda o CAU/RS, com representantes da Comissão do Patrimônio”, comemora.
Ainda segundo Wallig, é relevante para o IAB RS promover esse bate-papo, onde os representantes dos órgãos apresentaram as dificuldades enfrentadas, as ações que foram realizadas, as ações que estão sendo realizadas e as que estão em planejamento. “É uma oportunidade especial de transversalizar esses trabalhos, promover esse encontro para que o público também tenha uma sensibilização e contribua nas ações de preservação, mitigação e antecipação da preservação do patrimônio frente à emergência climática”.
Debora iniciou sua fala relatando profundo pesar com os eventos de maio. “Nós tivemos bens próprios da Secretaria da Cultura afetados, são cinco afetados diretamente. Um foi muito afetado, que foi o Centro Municipal de Cultura, que ele não é um bem de preservação, mas ele é muito importante para a cidade. O Teatro Renascença está acabado”, lamenta. O Museu de Porto Alegre, conforme cita, teve água na altura próxima de um metro, o que afetou o acervo arqueológico. “Além disso, será necessário o processo de sanitização das edificações. Religação elétrica emergencial para melhor acesso aos prédios e segurança elétrica. Levantamento após limpeza para verificação dos consertos necessários”, aponta.
Carlos Renato Savoldi ressaltou que IPHAN e IPHAE atendem 497 municípios no Estado, com toda a sua diversidade e complexidade de bens, tanto materiais quanto imateriais. No contexto atual, o acervo conta com 130 inventários com 15 mil bens inventariados. Entre eles estão 56 bibliotecas, 47 museus, 51 casas de cultura, 3 centros culturais, 3 arquivos públicos, 25 clubes comunitários, 5 charqueadas, 31 CTGs, 1 cemitério histórico, entre outros atingidos. “E a gente ainda não tem a dimensão do que efetivamente aconteceu ou não aconteceu com eles”, disse. Entre os equipamentos culturais da SEDAC, oito foram bastante atingidos. “É o caso do Museu do Carvão, onde sete prédios foram inundados, e quatro deles recém haviam sido restaurados”, disse. Savoldi, por outro lado, comemora a reabertura de importantes espaços culturais, como a Casa de Cultura e o Museu Hipólito José da Costa.
“A primeira coisa foi tentar entender a dimensão do que estava acontecendo. Primeiro teve o acolhimento da nossa própria equipe de trabalho, em que alguns foram atingidos. Depois como instituição colocar à disposição a estrutura que tínhamos para auxiliar outras pessoas”, disse Rafael Passos. O Superintendente do IPHAN destacou que havia um sentimento, um certo constrangimento em agir sobre o patrimônio quando se pensava em salvar vidas. “Mas foi feito, então, um diagnóstico, à medida que os municípios declaravam situações de emergência. O IPHAN é o único órgão ligado a cultura presente em todos os estados, o que torna tudo mais burocrático”, aponta.
Em um segundo momento foi feito um levantamento preliminar de danos, a partir do momento que a água recuou. “Posso falar pelo patrimônio material edificado, e não tivemos nenhuma perda total e nenhuma perda irreversível, nenhum dano irreversível”, afirma, mas faz uma provocação com relação aos projetos elétricos e de climatização, por exemplo. “Onde se coloca sistemas elétricos, os grandes aparelhos de ar-condicionado? No térreo ou subsolo”.
José Daniel Simões relata que “desde o início das enchentes fomos cobrados, inclusive por ações que não nos diziam respeito. Então tivemos que nos organizar, levando em conta os trabalhadores da equipe que foram atingidos, e assim trabalhamos no reconhecimento e possível atendimento”. O CAU/RS dividiu o momento de emergência da atuação do conselho, partindo da emergência, o pós-emergência e as projeções para os próximos passos.
“Aos poucos foram estabelecidas algumas ações, como um comitê de ação para a reconstrução, que estabeleceu contato com a Secretaria Extraordinária da presidência da República”. Foi proposta a instalação de escritórios regionais, tudo além da questão de patrimônio. A expectativa é que esses escritórios sejam implantados em algumas cidades”, explica. Além disso, a entidade foi contatada para auxiliar no reparo de diversos acervos.
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