O exercício aconteceu durante o seminário chamado para discutir o Memorial às Vítimas da Boate Kiss. O projeto terá três partes. A primeira, com a realização de um concurso que escolherá o pré-projeto arquitetônico para o memorial. A segunda, na execução e desenvolvimento do projeto. A terceira, a fase de construção.
Até chegar a elas, porém, a iniciativa precisa arrecadar dinheiro para bancar cada uma das etapas. No seminário, a estimativa de gastos que girava em torno de R$ 250 mil foi reduzida para R$ 150 mil, graças a adequações na proposta. Os novos números, datas e como deve ocorrer a execução do projeto foram apresentados em uma coletiva de imprensa na sede do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), em Porto Alegre, nesta terça-feira (26).
O grupo responsável pela iniciativa já colocou no ar a campanha de financiamento coletivo que deve viabilizar as duas primeiras etapas. A meta parte de um valor mínimo de R$ 150 mil e segue até R$ 300 mil. O que significa que, se atingida a meta mínima, o concurso já pode ser realizado.
“É muito mais um espaço simbólico, que, claro, tem que ter espaço para a Associação fazer atividades e acolhimentos eventuais, espaços multiuso e de acervo, mas algo bem mais singelo”, explica Rafael Passos, presidente do IAB, que participa da iniciativa.
A proposta do Memorial é que ele seja um monumento, um espaço multiuso para realização de seminários, eventos e para abrigar acervo de pessoas que ficaram na Kiss e uma praça. Segundo a iniciativa, apresentada no IAB, a proposta com a qual os arquitetos terão que trabalhar, é de “mais praça do que edifício”. Um espaço simples “sem muros, sem grades, sem obstáculos, sem materiais nobres e ostentação”.
O pedido partiu especialmente dos pais. Antes de começaram a iniciativa atual, familiares e vítimas da Kiss já haviam recebido propostas de construção de edifícios especiais no local da tragédia, como espaço de memória.
“Nós não queremos colocar um prédio de última geração, que seja maravilhoso. Não. A gente só quer lembrar a imoralidade toda que teve ali, com a questão da Justiça, com a questão da fiscalização. Para mim, não seria bom estar aqui, falando em memorial. Meu grande memorial seria estar com meu filho, dando voz a ele, vendo ele trabalhar e ser um bom cidadão”, diz Sérgio Silva, que perdeu o filho no incêndio e é presidente da Associação de Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM).
Com as novas datas, a campanha de arrecadação ganha 60 dias a mais e segue até o dia 25 de novembro. O lançamento do concurso, que estava previsto para o dia 12 de outubro, ficou para a primeira semana de dezembro. O anúncio do projeto vencedor será no dia 27 de janeiro.
A readequação de valores e datas da proposta também deu mais prazo para que a prefeitura de Santa Maria articule a demolição dos escombros da antiga boate Kiss. A previsão é de que ela estaria concluída até o próximo aniversário da tragédia – 27 de janeiro de 2018. Agora, porém, a data marcará o anúncio dos vencedores do concurso e contratação dos arquitetos que irão desenvolver o projeto do Memorial.
“É um processo complexo, são casas geminadas, não é só colocar uma patrola e uma retroescavadeira e sair demolindo”, explica o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobon (PSDB). “Quando a gente foi desapropriar o prédio, os proprietários queriam R$4,5 milhões. Eu disse que não tinha a menor hipótese de pagar esse dinheiro e começamos uma conversa com muita serenidade, com responsabilidade e chegamos a R$ 1,35 milhão. Valor que parcelei em 12 vezes”.
Segundo Pozzobon, a prefeitura já está conversando com o Sinduscon (Sindicato de Construção Civil) para negociar a demolição do prédio, sem gastar dinheiro público.
O atual prefeito salientou ainda que sua gestão, que assumiu no início deste ano, fez questão de trabalhar construir uma nova relação com os familiares e vítimas. “Queremos que esse espaço seja aberto, de amor, de reflexão, mas principalmente que seja de homenagem. ‘Para que nunca mais se repita’ não é um mantra. É uma verdade”.
“É um espaço para que seja lembrado, para que não aconteça de novo. Foi com o meu filho, mas amanhã pode ser com essa molecada que está vindo. As boates continuam a mesma coisa, aquele monte de gente, empresários que não respeitam, fiscalização que não fiscaliza. Esse espaço é para que não mais aconteça”, afirma Sérgio.
Fotos: Guilherme Santos/Sul21
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