O filme uruguaio O Banheiro do Papa foi o ponto de partida para a discussão a respeito das obras da Copa de Mundo e suas consequências para a capital gaúcha. A arquiteta Cláudia Favaro, integrante do Comitê Popular da Copa em Porto Alegre, foi a convidada especial do debate, que aconteceu nesta quarta-feira, 04 de setembro, no Solar Conde de Porto Alegre, sede do IAB-RS. O encontro teve mediação de Humberto Hickel, vice presidente da entidade.
Depois da exibição do filme de César Charlone e Enrique Fernández, que aborda as consequências da visita do Papa João Paulo II a uma pequena cidade uruguaia, Cláudia buscou traçar analogias e diferenças da história do longa-metragem com a vinda da Copa para Porto Alegre. “O que está acontecendo é uma verdadeira ‘limpeza’ da cidade em benefício das construtoras, não respeitando populações marginalizadas, meio ambiente ou patrimônio histórico”, apontou Cláudia.
“O filme deixa muito clara uma esperança da população de que a cidade melhore e de que a população mais pobre lucre com o evento, algo que também acontece em Porto Alegre; mas a FIFA não vai permitir vendedores ambulantes ou pequenos comerciantes perto dos estádios e as obras que estão sendo feitas não irão solucionar de fato problemas sérios da cidade”, afirmou a arquiteta.
Carlos Alberto Sant’Ana, ex-presidente do IAB-RS, citou o caso da implantação da frota de ônibus BRTs como um caso de esperança de melhoria que será frustrada. Segundo ele, o novo sistema “vai transformar o usuário de ônibus em alguém que precisará caminhar mais, já que as estações serão mais distantes umas das outras, e isso rá desestimular o uso do transporte público”.
O estado de exceção da cidade durante a Copa de 2014 também foi tema do debate. “A população irá se surpreender com as restrições de liberdades em algumas áreas, como no Morro Santa Tereza, que só poderá ser acessado nos dias das partidas por pessoas com ingresso ou mediante comprovação de residência”, relatou Cláudia. Para o presidente do IAB-RS, Tiago Holzmann da Silva, tais arbitrariedades deverão ser revistas e melhor divulgadas para a população, pois, sem essa revisão de postura, a “a reação popular poderá ser forte e até mesmo violenta como vimos nas manifestações recentes em todo o Brasil”.
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