Pórticos e monumentos, com raras exceções, vêm poluindo a paisagem urbana e rural, senão do Brasil todo, pelo menos do Rio Grande do Sul. Expressam um certo estágio de infantilismo e, talvez mesmo, de deseducação, embora fortemente fundamentados em robustas teses de promoção, de divulgação e de “marketing” público e privado. Já podem ser considerados uma epidemia. Têm pavimentado o imaginário coletivo em grande número de municípios, em cidades, parques de exposições, acessos a empresas, centros administrativos. Representam símbolos do mundo dos sonhos da infância, embora decididos pelos adultos, muitas vezes por representantes eleitos. Não raro são casos constrangedores de aplicação de dinheiro público. Comunidades municipais buscam com tais empreendimentos difundir a imagem dos seus municípios, buscando promover seus produtos econômicos, suas logomarcas, símbolos que sugerem o caráter de seus valores sociais e culturais. Formas que pretendem consolidar emblemas, signos ou estimular o apetite e os desejos biológicos mais afeitos à fase pré-natal. Um enorme morango foi transformado em pórtico de entrada a um Parque de Exposições. Agora só falta um abacaxi sugerir o acesso a um município grande produtor desta deliciosa fruta. Não seria de surpreender, da forma como a imaginação tem estimulado o empreendedorismo da mediocridade, uma iniciativa de construção de um cacho de bananas ou uma salsicha como portal de acesso a determinadas cidades. A acelerada velocidade com que tais iniciativas têm sido tomadas preocupa a todos quantos têm a responsabilidade pela gestão pública. Mas a iniciativa privada também tem sido pródiga em empreendimentos que realimentam o imaginário contemporâneo, reabilitando castelos medievais, pórticos bávaros, torreões germânicos como máscaras de hotéis e lojas de departamentos, casernas e porões gastronômicos que lembram fortalezas encantadas. Toda a sorte de esculturas e monumentos sublimam símbolos e ícones como tamancos de madeira, ou colonos como o “Fritz e a Frida” nas festas dedicadas à cerveja, as pipas de vinho e, não raro, miniaturas da arquitetura da alta Idade Média italiana, ou ainda o lamentável Pórtico de acesso ao Patrimônio da Humanidade na Região Missioneira. Os Parques Temáticos povoam de sonhos de incautos usuários que, por alguns turísticos instantes, deixam-se transportar para as terras das maravilhas e das fantasias efêmeras da teatralidade urbana das paisagens culturais contemporâneas. Nas Universidades não seria possível a identificação de ícones materiais da mediocridade e do infantilismo, embora o marketing acadêmico induza o entendimento, muitas vezes, de que o “sucesso pessoal inicia com o diploma”.
A desvairada propaganda inunda todos os espaços disponíveis, procurando preferencialmente obliterar as sinalizações de trânsito, o patrimônio ambiental urbano e a paisagem cultural. Não se dá conta de que o excesso de informação anula a possibilidade de registro de tanta informação. É dinheiro posto fora.
Mas o pior é a aplicação de recursos públicos na realização de empreendimentos de arte e arquitetura, com a prepotência de decisões eivadas de mediocridade, que pretendem iluminar o imaginário das comunidades com as bandeiras do infantilismo e da deseducação. Seria uma nova forma de dominação?
Arq. José Albano Volkmer
Presidente IAB-RS :: gestão 2002/2003