Os desdobramentos das manifestações promovidas no ano de 2013 reverberam ainda hoje em debates e análises acadêmicas, com o intuito de entender as motivações e o impacto no cenário político dos anos quer se seguiram. Esse foi o tema do Seminário Junho de 2013: dez anos depois. Visões sobre o início de um impasse”, idealizado pelo deputado estadual Matheus Gomes e Fundação Lauro Campos e Marielle Franco.
O evento ocorreu no Memorial Luis Carlos Prestes, em Porto Alegre, no dia 1º de julho, e contou com a presença do Luís Gustavo Ruwer, da Federação Anarquista Gaúcha; da coordenadora do SindPRO e militante do PSOL, Vera Guasso; e das copresidentes do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Rio Grande do Sul (IAB-RS), Clarice Misoczky e Paula Motta.
Luís Gustavo Ruwer, que é mestrando em Sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e em sua pesquisa destaca as questões urbanas e temáticas da periferia. Ele destaca que as movimentações, no entanto, tiveram início antes de junho daquele ano. “As lutas pelo direito à cidade e ocupação do espaço público se destacam em 2011 e 2012, numa grande efervescência cultural com diversos movimentos. São as pessoas que frequentavam eventos e estiveram nessas ações que, logo depois, se manifestaram contra o aumento da passagem em 2013”, relembra.
Vera Guasso relembrou outros momentos em que esteve presente como cidadã lutando por seus direitos, com destaque para o período da ditadura no início dos anos 1980 e os movimentos que ocorreram no início dos anos 1990 pedindo o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. “Será que a esquerda tem um debate sobre esses dois grandes movimentos?”, questionou, ao falar sobre a importância da memória nas lutas sociais. Sobre 2013, Vera relembra que foi produto de uma série de fatores que foram chegando, e é preciso falar sobre eles. “Quem não compreende o que passou não poderá enxergar o futuro”, afirma.
Nos aspectos que envolvem a cidade e sua ocupação, Clarice Misoczky e Paula Motta falaram em nome do IAB-RS. Clarice destacou a questão dos mega eventos e como eles impactam – e excluem – parcelas da população da Capital, fatos que, no passado, contribuíram significativamente para um processo de ruptura do sistema.
“Porto Alegre, ao receber eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, operou na questão do marketing urbano, em que não pode aparecer manifestação ou nada que seja contra. Sobre o transporte, sem um projeto de cidade que priorize o transporte coletivo, se promove uma incidência para essa ruptura”, disse Clarice Misoczky .
Paula Motta, por sua vez, afirma que “a gente precisa vislumbrar a cidade que queremos, para lutarmos dentro dos processos de privatização que nos tiram a oportunidade de viver a cidade e promover lutas sociais”, finaliza.
Por Ricardo Rodrigues – Ortácio Agência de Comunicação / Assessoria de Comunicação IAB RS