O projeto é uma atividade técnica regulamentada em lei federal, tanto para arquitetos como para engenheiros. O projeto executivo de um espaço edificado leva meses de trabalho, envolve uma série de profissionais, exige a responsabilidade técnica e civil sobre o projetado e deve atender a uma infinidade de Normas Técnicas e leis incidentes.
Para o memorial de Santa Maria deverão ser elaborados pelo menos os seguintes projetos: arquitetônico, acessibilidade, estrutural, instalações elétricas e de comunicação, luminotécnico, instalações hidrossanitárias, SPDA (raios), PPCI (prevenção de incêndio), ar condicionado (provavelmente), paisagismo, comunicação visual e outros. Todos esses projetos serão acompanhados de memorial descritivo, quantitativos e orçamento detalhado para execução de obra.
Para permitir o começo da obra deverão ser atendidas todas as exigências de aprovação e licenciamento no Município (urbanismo, água, esgoto), concessionária elétrica, Bombeiros e outros que tem responsabilidade de fiscalizar os projetos e obras em nome de toda a sociedade. A responsabilidade pelas aprovações dos projetos é igualmente dos projetistas arquitetos e engenheiros e pode levar muitas semanas, até meses.
Esse é o trabalho dos Arquitetos que, realizado com profissionalismo e seriedade e respeitado pelo cliente e comunidade EVITA tragédias como a que aconteceu com nossos jovens em Santa Maria.
Durante toda a campanha de doação para o concurso e projeto do Memorial escutamos de algumas pessoas, inclusive de empresários, a sugestão de que os arquitetos deveriam “doar” o projeto e a crítica aos profissionais que querem “ganhar dinheiro”, vejam só, exercendo a sua profissão. Pressionar pela doação de trabalho técnico, ou entender que isso é normal ou uma “obrigação” dos arquitetos significa instalar um processo parecido ao que originou a tragédia: desrespeito aos profissionais, alteração leiga do projeto, falta de profissionalismo e de relação formal, aprovações “meia boca”, “vista grossa” na fiscalização, irresponsabilidade geral…
Temos 242 falecidos na tragédia e todos nós somos meros sobreviventes. Todos já estivemos em lugares e situações parecidas – sem projeto, sem fiscalização – correndo o mesmo risco. Se a construção do Memorial não nos ajudar a entender o que aconteceu, poderá acontecer novamente. O que o IAB RS propôs desde o início foi realizar um processo exemplar, perfeito jurídica e tecnicamente, contrariando a cultura dominante do jeitinho e do improviso. A Associação dos familiares – AVTSM – acreditou nessa proposta desde o primeiro momento e será, muito merecidamente, a promotora do primeiro Concurso Público de Arquitetura financiado exclusivamente pela sociedade, à qual deu provas inquestionáveis de sua maturidade e solidariedade.
* Tiago Holzmann da Silva é arquiteto e urbanista e coordenador de Concursos do IAB RS