Em 19 de Março de 1948, sob orientação e auxílio da Direção Nacional do IAB, o Departamento do Rio Grande do Sul formou-se congregando profissionais e estudantes, arquitetos locais que viriam a escrever seu nome na história do Rio Grande do Sul. O IAB, nascido no Rio de Janeiro em 1921, como Sociedade Central de Arquitetos, tornava-se pela criação de departamentos estaduais uma federação de entidade que aos poucos se instalou em todo o território nacional. O IAB iniciava sua história como a voz dos arquitetos gaúchos.
Nos anos 40, a arquitetura brasileira, vivendo um momento de grande evidência internacional, era conhecida pela sua inovação e originalidade, e correspondia a um produto cultural erudito de alta sofisticação, Por anos subseqüentes, a arquitetura brasileira viveu grande prestígio, simbolizando o desejo do país em elevar seu desenvolvimento ao nível mais avançado.
Expandiu-se o número de arquitetos, expandiu-se o IAB, entidade que passou a congregar e promover a associação dos profissionais e abrigar as manifestações artísticas. O IAB do Rio Grande do Sul esteve sempre na vanguarda das manifestações políticas e culturais deste estado, especialmente quando instalou-se em sede própria na Rua Professor Annes Dias, formando ali um espaço cultural que por décadas foi o palco de acontecimentos tão marcantes para Porto Alegre e para o Rio Grande do Sul.
Mas anos de regime autoritário vividos pelo nosso país a partir de 1.º de Abril de 1964 pesaram sobre os arquitetos gaúchos sob forma de bárbara repressão política. O IAB, cumprindo sua missão e seus propósitos, permaneceu firme em protesto e na defesa da democracia. Um período de aparente prosperidade deu continuidade à evolução da arquitetura moderna brasileira, mas sem resolver as desigualdades nacionais, agravaram-se os problemas brasileiros de saneamento, moradia e da qualidade do ambiente. Ao final, entre as inúmeras vítimas do regime, encontrava-se o sonho de construirmos uma nação culturalmente evoluída, desenvolvida e justa. O Brasil restou no fim do Século XX como uma nação desiludida, assolada pela pobreza e pela corrupção, sem um projeto claro de desenvolvimento e confusa quanto aos princípios mais elementares, que não reconhece a arquitetura e o ambiente qualificado como uma necessidade básica.
Mesmo após tanto tempo de redemocratização, a sociedade brasileira encontra-se dividida entre desejos de evolução e justiça e o imediatismo que submete todos os valores – ambientais, culturais, espirituais e até o interesse econômico da maioria – ao lucro de poucos. O regime democrático não é uma estável estrutura em que se possa confiar resistir ao peso dos elementos. A democracia é uma estrutura dinâmica, e somente existirá quando for abraçada pelos cidadãos, reconhecida como seu meio de viver.
Os arquitetos, num momento em que vêem sua profissão desprezada, e conseqüentemente seu trabalho desvalorizado, têm no IAB um instrumento de representação e ação política, que objetiva atender seus princípios éticos e o papel da arquitetura na cultura brasileira. Como utilizar este instrumento? Em primeiro lugar, precisamos fortalecê-lo, entendendo que uma associação é a soma da contribuição de cada um e que não existirá meios de valorizarmos a nossa profissão se não houver uma voz poderosa a falar por ela.
A sociedade industrial do Século XXI confronta-se finalmente com o inexorável e há muito tempo previsto esgotamento dos recursos naturais. Inevitavelmente é a qualificação e otimização dos recursos que trará a possibilidade de continuidade desta civilização.
A qualificação do ambiente é a tarefa da arquitetura e urbanismo, que deve visar à grande maioria, seja pela difusão dos padrões mínimos de conforto e infra-estrutura já consagrados na maior parte do mundo, seja pela produção de espaços qualificados e significativos, que atendam às necessidades da população e suas aspirações estéticas e espirituais.
A Arquitetura deve ser aceita como um DIREITO da população brasileira, tanto quanto é a saúde e a participação política. A visão até agora prevalente do “problema habitacional” como simples produção de moradia, não deve ser a solução da arquitetura.
Mas a valorização da arquitetura também depende de haver uma efetiva regulamentação de seu exercício.O IAB continua firme em uma luta fundamental para valorizar nossa profissão. O Executivo Federal está prestes a propor ao Congresso Nacional a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU, nossa maior reivindicação, que constituirá o órgão regulamentador dos Arquitetos e Urbanistas. O Presidente Lula vetou o projeto original do legislativo por vício de origem, em Janeiro passado, mas, reconhecendo a necessidade do CAU, comprometeu-se em reapresentar o projeto.
A diretoria do IAB-RS tem um entendimento positivo da situação, apesar da expectativa frustrada da aprovação do CAU. O Presidente e toda a classe política reconhecem a justiça do nosso pleito. O debate no legislativo propiciou a mobilização dos arquitetos e provou, perante as duas casas legislativas que o CAU é uma necessidade para o bom exercício da profissão de arquiteto e urbanista e atende ao interesse nacional. Sem a apreciação que o projeto já sofreu ao ser aprovado no Congresso Nacional, quem sabe quando o governo seria sensibilizado a comprometer-se com nossa causa.
A aprovação do CAU é uma meta prioritária dos arquitetos brasileiros, e não devemos poupar esforços para atingi-la. Não devemos esquecer jamais que o CAU e o IAB não se confundem, pois o IAB é uma associação de profissionais e o CAU deverá ser uma autarquia pública com função de realizar uma tarefa do estado, a regulamentação da profissão de arquiteto e urbanista. Pois como autarquia terá uma gestão eleita, e para garantir a democrática participação, necessário é que estejamos organizados e preparados para colaborar na administração do CAU.
O IAB deverá se comprometer em todos os seus recursos para cumprir os seus objetivos de ser a entidade representativa dos arquitetos e o promotor da cultura arquitetônica e urbanística no estado do Rio Grande do Sul. Para isso, deveremos contar com os meios de comunicação próprios, como o Informativo, a Revista Espaço, que será mais uma vez lançada, e sobretudo deveremos preparar a conclusão das obras do Solar Conde de Porto Alegre, onde instalaremos e administraremos o Centro Cultural de Arquitetura e Urbanismo do IAB.
Esta obra, que todos podem apreciar a nossa volta, deverá Ter mais uma etapa de obras realizada a partir de Abril, quando iremos restaurar salas da frente do casarão. Imaginemos o funcionamento deste lugar como uma visão do quanto poderemos promover no futuro a cultura arquitetônica e urbanística no estado.
Hoje festejamos os 60 anos de existência do Departamento do Rio Grande do Sul do Instituto de arquitetos do Brasil. Data tão significativa, por encimar um período longo comparado a uma vida humana, no entanto não esclarece o real estágio evolucionário de uma entidade com o alcance e as pretensões do IAB. Qualquer obra humana, incluindo-se uma entidade associativa, tem um ciclo próprio de existência, que corresponde ao desejo da sociedade de ver realizados os seus objetivos.
O IAB, entidade associativa que tem por fim congregar os arquitetos, propugnar pela boa arquitetura e pelo urbanismo como ferramentas para promoção do bem estar e elevação cultural da população brasileira, pelo cumprimento das leis e execução da justiça, tem finalidades que estão longe de serem superadas pela sociedade. Se alcança hoje uma idade avançada, mesmo para o padrão de existência da maioria das associações e grupamentos formados para defender os interesses mais diversos, o IAB corresponde a uma necessidade viva e que se renova a cada geração, e tem portanto uma tarefa imensa ainda a cumprir, na organização dos arquitetos e urbanistas, e promoção da Arquitetura e Urbanismo.
Por isso, encerramos a nossa fala com uma referência aos dois líderes exemplares a quem a entidade tanto deve tanto de sua existência, Carlos Maximiliano Fayet e José Albano Volkmer. Ambos falecidos para nosso infortúnio no ano de 2007, serão sempre lembrados como organizadores e agregadores de pessoas, matéria prima básica de uma associação. Dão-nos ambos o exemplo de abnegada e obsessiva dedicação por um ideal ao qual não hesitaram em sacrificar tanto de suas vidas e de quem herdamos hoje a tarefa de passar a uma nova geração.