O Projeto Brasil Cidades é uma iniciativa da Frente Brasil Popular, coordenada nacionalmente por pela arquiteta e urbanista Ermínia Maricato. A motivação vem da constatação que, apesar da conquista de arcabouço legal urbanístico inovador, as cidades retomaram o rumo do aprofundamento da desigualdade social no espaço urbano. É preciso formar uma agenda de médio o longo prazo para que tenhamos realmente cidades mais justas e igualitárias.
O encontro contou com a participação de representantes da Amigos da Terra Brasil, Grupo de Pesquisa de Sociologia Urbana – UFRGS, Faculdade de Arquitetura da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Coletivo Ambiente Crítico, Coletivo Obra, FENEA, DAFA, TransLab, Coletivo Cidade que Queremos, Sociedade de Economia do RS (Socecon-RS), Sindicato dos Engenheiros do RS (SENGE/RS) e Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Movimento de Luta nos Bairros, Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Movimento de Mulheres Olga Benário, Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas Concessionarias no Ramo de Rodovias e Estradas em Geral no RS (SINDECON-RS), Sindicato de Economistas do RS, Associação Comunitária do Centro Histórico de Porto Alegre (ACCH), Centro de Direitos Humanos (CDH), Associação dos Técnicos de Nível Superior do Munícipio de Porto Alegre (ASTEC), estudantes e pesquisadores.
A presidente do SAERGS, Maria Teresa Peres de Souza, apresentou um histórico de como surgiu a ideia de formar o núcleo em Porto Alegre, citando o seminário promovido no final 2017 com a presença de Ermínia Maricato. Ela informou que desde o ano passado foram feitas diversas articulações. “ A partir das eleições do CMDUA muitas entidades e pessoas se aproximaram da ideia deste projeto, a fim de participarem da discussão de: Qual é a cidade que gostaríamos de ter e o que precisamos fazer?”, informou. Maria Teresa citou a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas, deixando o recado do presidente Cícero Alvarez, para que possam contar com a FNA. Teca, como é conhecida a presidente do Saergs, explicou que foram elencados alguns temas para um debate inicial para linhas importantes de discussão, e a partir do Fórum Nacional, outros temas irão surgir a partir deste evento. “Queremos ouvir não só os movimentos sociais organizados, mas também os não organizados”, disse.
A vice-presidente do IAB RS, Clarice Oliveira, citou as entidades apoiadoras e evidenciou o que é o BR Cidades, destacando que sua base é pensar a cidade e o direito à cidade. “Esta ação do BR Cidades é conjunta, formada não apenas por técnicos, mas por pessoas que vislumbram a possibilidade de transformação de uma cidade mais justa”, ressaltou. Clarice informou que existem núcleos formados no Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Florianópolis. Também apresentou a agenda para os dias 22, 23 e 24 de maio, em São Paulo, quando ocorrerá o “Fórum Nacional – UM projeto para Cidades do Brasil”. “É um grande desafio que temos pela frente e precisamos do engajamento dos movimentos sociais”, convocou a vice-presidente do IAB RS. Ela também relatou sobre as atividades que os núcleos de outros Estados que já estão fazendo aulas públicas, debates na periferia e atividades preparatórias para o Fórum.
O arquiteto Bruno Mello, integrante do Laboratório Cidade em Projeto (CPLAB- UFRGS), disse que o BR Cidades também é para se construir uma agenda dos movimentos que indique uma nova postura e aponte um futuro que queremos para a cidade. “Temos que nos associarmos para fazermos as modificações que almejamos”, refletiu Bruno.
O sociólogo César Schütz, disse que Porto Alegre que já foi referência de democracia e participações, hoje vem sendo desmontada. “Entendo o BR Cidades como um grupo de resistência”.
O médico Márcio, servidor do município, falou da dificuldade de argumentar com as pessoas nas relações de disputa de poder, porque elas têm visão centrada em si mesma. “A maioria não consegue ver a cidade como um todo”, observou. E temos que pensar qual o papel delas neste coletivo da cidade.
A arquiteta Fernanda Escobar, falou do processo de alienação e sua experiência na periferia. Para ela, sem construir um senso comunitário não conseguimos crescer. Estamos discutindo uma agenda de planejamento urbano e para uma cidade justa. Como primeiro passo para podermos deslumbrar um capital sociológico e a construção desta agenda do BR Cidades. As comunidades precisam se entender para nos ajudar. Precisamos discutir o planejamento urbano com ele, com uma metodologia possam entender e dialogar com a gente.
Sergio Brum, engenheiro do SENGE/RS, se comprometeu em estar junto com o IAB RS e BR Cidades para as futuras ações. Brum acredita que hoje o Plano Diretor é o grande problema da cidade, pois ele é totalmente “negociável” e tem muitas brechas. Temos que reconstruir a participação com um potencial de incomodar um pouco os dirigentes eleitos, para que possamos construir juntos uma cidade melhor.
Leonardo Brawl, arquiteto do TransLab, destacou que o grupo deve fazer um esforço para abranger todos os gêneros, utilizando outros métodos de diálogo com as comunidades. Ele pontuou aspectos psicológicos, para não reproduzirmos preconceitos como, por exemplo, a de “homens brancos e acadêmicos ficarem sempre com a palavra”.
O arquiteto Pedro Araújo, disse que “ainda bem que tivemos essa iniciativa de se juntar, pois vejo isso como uma resposta inteligente para esse momento político”. Para ele, temos uma crítica muito bem construída para propostas neoliberalistas da cidade, mas precisamos nos reunir para pensar alternativas de contrapropostas, assim fica mais fácil de desmanchar essa visão tão curta que vem sendo apresentada pelos gestores.
A primeira reunião já resultou em muitas manifestações e propostas para de ter um grupo o mais plural possível. Ficou claro a necessidade de descentralização das atividades que serão propostas pelo grupo. Outro ponto foi a questão da metodologia para os próximos encontros, criando grupos de trabalhos. Também foi identificada a necessidade de ações que façam que as pessoas pensem mais sobre a cidade, e que essa iniciativa não sobreponha os trabalhos que já existem na cidade.