Participaram Geneci Flores e Onir Araújo, da Frente Quilombola RS, e Daniele Vieira, geógrafa e pesquisadora dos Territórios Negros de Porto Alegre. A mediação foi de Thaise Machado, arquiteta e urbanista e pesquisadora da arte e cultura nos Territórios Negros.
Thaise destacou a chamada ‘para além do novembro negro’, já que “a luta consiste em outros dias meses e séculos, vem de muito tempo”. E lamentou o assassinato de João Alberto Freitas, pela “condição estrutural que vem interrompendo vidas negras de forma secular”.
Daniele apresentou sua pesquisa que retoma a história de ocupação dos espaços pela população negra na Capital gaúcha, brutalmente afetada pelos processos tidos como “modernização” da região central da cidade. As grandes obras do século XIX e XX levou à periferização da população empobrecida, em sua maioria negra.
Ainda assim, Daniele destaca que “a presença negra no espaço urbano não pode ser narrada apenas a partir desse processo de deslocamento”. A pesquisadora reconhece que trabalhos sobre o processo de segregação,que relatam a violência sofrida, são legítimos. E, para além disso, “precisamos, em respeito à luta dessas pessoas, trazer o protagonismo desses grupos na constituição dos antigos povos negros”.
Geneci citou os oito territórios quilombolas urbanos de Porto Alegre – Alpes, Areal da Baronesa, Fidelix, Silva, Lemos, Machado, Flores e Família Ouro -, e afirma acreditar que existam mais que esses. Todos vivem em situação de risco, agravada pela situação de pandemia.
Onir lembrou da recomendação de não se fazer reintegração durante a pandemia. Os processos em andamento, nomeadamente o caso do Quilombo Lemos, é fruto da violência contra o povo negro. “Territorio é a proteção que temos. A cada grande obra da cidade, a alça de mira é a destruição desses territorios, expulsão, descaracterização, inclusive nominal”, disse.
O discurso de Onir e Geneci converge quando expõem a tradução dessa violência cotidiana. “A partir do momento que coloca o pé para fora da porta, a gente sofre algum preconceito. E, para não ter confronto, muitos baixam a cabeça”, lamenta Geneci. “Coisas banais como ir ao supermercado ou pegar filhos na escola é uma atividade de altissimo risco. O que estamos percebendo é que essa destruição é conjunta, ligada”, completa Onir.
No encerramento, Thaise provoca que debates como esse continuem em outras oportunidades. A live está salva na página do IAB RS no facebook.