UM PROJETO DE CIDADE PARA PESSOAS

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin

UM PROJETO DE CIDADE PARA PESSOAS

Cidade para Pessoas é o título de um excelente livro do arquiteto dinamarques Jan Gehl, seguidor dos ensinamentos da jornalista Jane Jakobs que, nos anos 60, já denunciava a desumanização das grandes cidades. Ambos apontam para algumas das propostas que foram implantadas pela nossa convidada Janette Sadik-Khan nas suas experiências exitosas para começar a transformar Nova York em uma cidade para pessoas, como Gehl já havia feito com Copenhague.
Cidade para Pessoas também é o jargão do momento. Assim como a tal sustentabilidade, Cidade para Pessoas virou frase feita e entrou na moda, correndo o risco de perder seu sentido revolucionário original. Repetida com insistência em diversos ambientes, Cidade para Pessoas já virou discurso de político oportunista e está servindo de maquiagem moderninha para as mesmas ações equivocadas de sempre.

Cidade para Pessoas mesmo, não é discurso, é atitude.

Para começar, Cidade para Pessoas exige que estas, as pessoas, sejam mais ouvidas e consultadas sobre o rumo de suas cidades, com um processo de participação democrático e acessível a todos. Para que esta participação seja efetiva os gestores públicos – prefeitos, vereadores, administradores – tem que abdicar da parcialidade e das tradicionais facilidades aos seus financiadores de campanha e buscarem atuar como mediadores e conciliadores dos naturais conflitos entre os diversos grupos de pessoas que legitimamente têm interesses na cidade.

Cidade para Pessoas exige que abandonemos o automóvel como centro das decisões de planejamento e único beneficiário dos projetos urbanos. Cidade para Pessoas exige que tenhamos capacidade de compreender que asfalto, viadutos, automóveis particulares… devem deixar de ser os protagonistas das cidades. Precisamos entender, por exemplo, que a inauguração de um viaduto estaiado de dois andares que já nasce engarrafado é uma insensatez, um desperdício, uma vergonha, e não uma obra para o futuro da cidade.

Os novos protagonistas da Cidade para Pessoas são as calçadas largas e bem pavimentadas e iluminadas, é o transporte coletivo de qualidade e as ciclovias, é o comércio de rua nos bairros, são as praças e parques e espaços de convivência, é a preservação da paisagem e do patrimônio e, claro, as pessoas. Os moradores têm que ser os novos protagonistas da cidade. Esta nova Cidade para Pessoas exige planejamento de longo prazo e projetos de qualidade que devem enfrentar a cultura do improviso, do jeitinho e a ansiedade dos gestores públicos e privados pela inauguração do inacabado que faz uma obra sem projeto, apresasada e mal executada.

Cidade para Pessoas exige um projeto, um Projeto de Cidade. Esta foi a contribuição do Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul – IAB RS, que recentemente publicou um decálogo, os “10 pontos para um projeto de cidade”, síntese das discussões históricas dos arquitetos e do acúmulo dos seus princípios e propostas para a cidade, que incorpora e amplia os conceitos citados. Ou seja, Cidade para Pessoas não é uma novidade para os arquitetos e recebemos estas experiências exitosas com um enorme cartaz de “eu já sabia”.

Já tivemos a oportunidade de assistir no Fronteiras do Pensamento a Manuel Castells, Zygmunt Bauman, Alain de Botton, Gro Harlem Brundtland, Marshall Berman, Enrique Peñalosa, e agora, em 2015, ouviremos Saskia Sassen e Richard Sennett, todos grandes pensadores da cidade contemporânea. Conhecemos bem esta gente toda, são nossos gurus. Asssitiremos também a Janette Sadik-Khan com atenção, para entender melhor seus ensinamentos e aprender com sua boa experiência de Nova York. E também vamos torcer para encontrar por lá, entre os ouvintes, nossos gestores públicos e investidores privados, esperando que estes também estejam atentos ao que a conferencista tem a dizer e comecem a compreender melhor e, principalmente, a praticar a Cidade para Pessoas – ou vamos precisar desenhar para que eles entendam!

Tiago Holzmann da Silva é arquiteto e urbanista e presidente do IAB RS.

(publicado no caderno Fronteiras do Pensamento, encartado em Zero Hora, em 25/04/2015)

IAB - RS

Por: Diretoria Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB

Outros Artigos