Giulia Morschbacher, de apenas 15 anos, líder do movimento “Vai ter Shortinho Sim”, organizado pelas alunas do colégio Anchieta contou que o principal objetivo da ação foi a conscientização. “A direção do Anchieta liberou uma nota dizendo que eles iriam manter a regra e que essa era moral cristã da escola. Mas nós questionamos isso, e agora resolvemos fazer barulho”, destacou a menina. Giulia confessou que não esperava tanta repercussão nas redes sociais e imprensa. “Queríamos mostrar que o jovem pensa e que gosta de ler e escrever. Estamos questionando desde muito cedo”, explicou a estudante. “Mudança é evolução”, discursou Giulia.
A advogada Tâmara Soares começou sua fala com a saudação “Bem-vindas a revolução”. “Essas meninas de 15 anos são uma revolução! As mulheres sempre foram as idealizadoras e nunca se deu o valor merecido para isso. A mudança de visão que o feminismo traz para a humanidade é revolucionária e vai impactar mais que o fim do petróleo”, prosseguiu a advogada. Para ela, tudo é disputa de poder que se dá em todos os âmbitos da sociedade, e que começa dentro de casa. A advogada acredita que o machismo é retirar da mulher a possibilidade de assumir poder. “As mulheres grávidas, enquanto grávidas, são vítimas de violência por seus companheiros. Esse poder feminino justamente começa e se dá como desculpa para o binômio proteção, subjugação”, analisou Tâmara. Ela questionou: Como esse poder se constrói? “Eu te protejo porque tu és frágil em troca da tua subordinação”, refletiu ela.
Para a advogada as mulheres precisam se enxergar como sujeito de direito e dignidade. “Há pouco tempo atrás não ia ter shortinho. Cada vez mais estamos olhando a mesma realidade de uma forma revolucionária para a mulher”, concluiu.
A mediadora do evento, Katia Suman, fez questão de contar que na timeline do seu facebook encontrou várias postagens agressivas sobre a polêmica do shortinho. “Muitos defendiam que era uma questão de uniforme, ou que existiam assuntos muito mais importantes para se discutir”, contou a jornalista. Kátia acredita que as pessoas querem definir o que é causa justa ou não. “As regras estão aí para serem questionadas, se não fosse assim, as mulheres não votavam até hoje”, lembrou. Para o caso do Colégio Anchieta “os meninos poderiam usar focinheiras para domarem seus instintos”, provocou.
Bia Kern, do movimento Mulheres em Construção, abriu sua fala destacando que “Nós somos mulheres em construção permanente”. Ela conta que o movimento nasceu depois de muita “encrenca”, pois a mulher não tinha lugar na construção civil. “Esbocei um projeto para mulheres começarem a trabalhar em obra e conquistarem uma renda”, contou Bia. “Eu fui considerada louca porque a maioria dizia que era coisa de macho”. Tudo isso começou há 20 anos, mas somente há 10 anos que Bia Kern conseguiu uma parceira com a dona de uma ferragem para dar início ao seu projeto. Hoje, as Mulheres em Construção promovem cursos com turmas lotadas de pessoas de vários municípios. “A obra é uma parceria é um trabalho em equipe”, defendeu Bia. Mas a líder do movimento contou que ainda encontra dificuldades muito sérias. “Tem obra que não conseguimos trabalhar porque não existe banheiro feminino, um absurdo! ”, desabafou. Atualmente, os principais clientes das Mulheres em Construção são as próprias donas de casa.
“Nossa maior demanda ocorre em residências prestando serviços de hidráulica e construção. Mas também já construímos casas”, informou. Ela ainda comemorou que hoje os cursos contam com apoio internacional, de arquitetas e do grupo do Vila Flores.
A vereadora Fernanda Melchiona citou vários exemplos onde a mulher é minoria ou é prejudicada. “São apenas seis mulheres na Câmara Municipal de Porto Alegre”, disse. “Estou no segundo mandato, tenho 32 anos, e estava sempre nas lutas usando tênis e calça jeans. E teve um vereador que criou um projeto de lei que dizia como a gente deveria se vestir. Foi um debate muito parecido com a campanha do shortinho. Mas conseguimos acabar com essa ideia machista e conservadora”, contou Melchionna. Para ela, temos muito que avançar, como por exemplo na questão da violência doméstica, onde temos delegacias da mulher sucateadas e apenas uma Casa da Mulher para uma cidade do tamanho de Porto Alegre. Ou ainda na área da educação, que foi retirado do currículo das escolas a questão do gênero. “Também tem a questão do crime mais comum entre mulheres que é o estupro”, destacou a vereadora, informando que recentemente foram 27 mil casos no Brasil sendo que se estima que apenas 10% foram registrados.
“Eu queria dividir com vocês um projeto para combater os assédios. Penso na ideia das cotas de mulheres para táxi. Existe uma cultura ainda muito machista de empregar homens. Nós mulheres temos que ter o direito de escolher que uma mulher taxista venha nos buscar depois de uma festa na madrugada, iriamos mais tranquilas”, defendeu.
A arquiteta Claudia Favaro, representante dos movimentos de moradia, disse que o debate é uma provocação importante. “A mulher na vida cotidiana é que mais sofre com essa crise habitacional. É ela que é a protagonista por moradia. Nos movimentos são elas que sentem a falta de um lar para seus filhos”, defendeu Cláudia. Para a arquiteta, o fato da casa ser a segurança da família é relativo. “É na casa que se esconde a questão opressora da família”, lembrou. Na questão do transporte, a arquiteta disse que o sucessivo aumento no valor das passagens onera de forma violenta a renda da família.
Neste conjunto, Cláudia acredita que temos uma série de coisas que são prioridade muito antes da própria mulher. “Antes de olhar para ela, a mulher precisa olhar para os filhos, para o bairro, e ainda lutar para ela conseguir que a vida realmente fique melhor”, enfatizou. Na questão do trabalho, ela diz que as mulheres são as menos escolhidas. “E o que temos visto ultimamente são os inúmeros casos de cortes nas políticas, como o da secretaria da mulher. Estamos sempre por último na aplicação das políticas públicas, assim como no programa Minha Casa Minha Vida. E no contexto geral é uma ofensiva nos direitos gerais", disse. “De frágeis não temos nada. Aguentamos assédio sexual em todos os lugares, mas isso de alguma forma nos deixa mais forte”, refletiu Cláudia.