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Solar Conde de Porto Alegre

A história do Solar Conde de Porto Alegre e o IAB RS

O Solar do Conde de Porto Alegre, atual sede do IAB RS, é uma edificação histórica protegida, um dos últimos exemplares de solar urbano ainda existentes no centro de Porto Alegre. Reproduzimos texto de Lorena Paim (texto) e Flavia Boni Licht (consultoria) sobre a edificação e sua história:

De Solar do Conde de Porto Alegre a Centro Cultural do IAB RS

A foto antiga mostra a família reunida para uma festa de casamento, na grande sala de estar, logo na entrada do Solar do Conde de Porto Alegre. Imagem do século XIX, quando os abastados erguiam suas moradias em áreas como esta, de 921 metros quadrados no total, no Centro Histórico de Porto Alegre. Localizado na esquina da Rua Riachuelo com General Canabarro, o prédio foi moradia de Manoel Marques de Souza, o Conde de Porto Alegre, importante personagem ligado à história oficial da capital gaúcha e do Estado. Entre outros cargos, ele atuou na Revolução Farroupilha pelo Império, foi comandante do Exército da Província na Guerra do Prata, deputado geral do Rio Grande do Sul, conselheiro da Coroa e ministro da Guerra.

Segundo dados da EPHAC- Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural de Porto Alegre, o Solar apresentava, naquela época, características da arquitetura colonial portuguesa, como aberturas em caixilho e arco abatido de madeira, cobertura de telhas em capa e canal, camarinha no eixo da fachada principal, mescladas à influência no neoclassicismo em voga no Império (platibanda e pilastras na fachada principal).

Em 1933, em função da reciclagem de uso, o imóvel recebeu alterações em sua configuração original, principalmente na volumetria (supressão da camarinha), aberturas externas (substituição de esquadrias em arco abatido por verga reta) e tratamento de fachadas, que sofreram uma atualização da linguagem arquitetônica para um neoclássico tardio. Quanto ao prédio do Antigo Necrotério, situado ao lado, de frente para a Rua Riachuelo, construído também em 1933, apresenta o ecletismo historicista daquele período.

Desde então, o Solar passou a ser utilizado como Quartel-General do Corpo Policial “Ratos Brancos”, recebendo várias intervenções que alteraram a composição de elementos arquitetônicos originais. Ainda naquele ano, foi construído o primeiro Necrotério da cidade, ao lado do prédio principal. O Solar, o Antigo Necrotério e o respectivo terreno formam o conjunto tombado pelo Município de Porto Alegre em 1998.

Ainda conforme a EPHAC, o prédio é estruturado com paredes de alvenaria portante em tijolos argamassados em cal, areia, mica e barro com vestígio de conchas. O pavimento térreo apresenta acesso principal pela Riachuelo e é composto pelo salão no setor central, conectado a duas alas com salas. O pavimento superior apresenta outro salão. No pavimento superior, o ritmo dos vãos obedece à disposição das aberturas do pavimento térreo, ocorrendo balcões com peitoril de ferro nas duas sequências de aberturas dispostas em simetria. O arremate da cobertura é dado por uma platibanda e uma cimalha, que se estendem ao longo de todo o perímetro da construção.

O Solar pertence atualmente ao Instituto dos Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio Grande do Sul (IAB RS), que já restaurou, com recursos próprios, a parte do anexo ocupada pela entidade, a qual tem ali o setor administrativo. Em diversos outros espaços do prédio principal, vêm sendo desenvolvidas atividades características de centro cultural, como eventos, espetáculos teatrais e oficinas artísticas. O Solar passou por diversos processos de restauração desde 1999, o que não impediu o funcionamento normal nos setores já concluídos.

Época provável de construção é 1835

Não existem dados precisos sobre a data em que foi erguido o prédio, mas estima-se que teve uso residencial pelo Conde de Porto Alegre de 1855 a 1875. A época provável da construção é 1835, período, portanto, da Revolução Farroupilha. O imóvel foi vendido ao Governo do Estado em 1932, por 180 contos de réis. O  local abrigou, desde então, vários órgãos públicos, como Quartel-General da Guarda Civil, Chefatura de Polícia, Instituto Médico Legal e DOPS, centro de repressão na ditadura.

Com a posse pelo Governo, a intenção era abrigar o Arquivo Histórico. Em 1986, um incêndio destruiu toda a área frontal do imóvel. Na década de 90 foi modificada a intenção original e cedido o uso para o IAB RS manter ali a sua sede e implantar um Centro Cultural de referência em Arquitetura e Urbanismo, comprometendo-se com sua restauração e conservação. Alguns entraves burocráticos dificultam o andamento do processo de restauração, mas acrescenta que as doações de recursos são bem-vindas, com base nas Leis de Incentivo à Cultura.

Inauguração da fachada do Solar em comemoração com a cidade

Após um longo período de restauro, o público pôde conferir de perto no dia 19 de agosto de 2023 a imponência da construção do Solar Conde de Porto Alegre, atual sede do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Rio Grande do Sul (IAB RS). A obra que iniciou nos anos 2000 passou por diversas gestões. Depois de muitos anos coberto por tapumes, o prédio voltou a fazer parte da paisagem do Centro Histórico, na semana de comemorações do dia do patrimônio cultural. O evento contou com a participação dos componentes da direção da casa, de autoridades municipais e estaduais, e do público, que prestigiou, ainda, diversas atrações culturais.

Revitalizar a fachada de um prédio histórico, que passou por diversas fases e ocupações ao longo da história, demandou pesquisa e o envolvimento de uma equipe multidisciplinar, conforme destacou o arquiteto Lucas Volpatto, responsável pelo restauro, durante a solenidade de inauguração.

“São muitas camadas de história, e foi preciso decifrá-las para dar seguimento ao trabalho. Contamos, inclusive, com o auxílio de artistas especializados para trabalhar com os ornamentos. Acima de tudo foi um aprendizado para todos”, comemora Volpato.

O arquiteto destacou, ainda, que durante o processo de pesquisa histórica, descobriu que o imóvel pertencia, formalmente, à esposa do Conde, a Condessa Bernardina Paiva, a conhecida como Binoca, que herdou o imóvel de seu tio e tutor Ismael Paiva, como presente de casamento.

A arquiteta e diretora financeira do IAB RS, Rochele Pizzolotto Lyrio, que integrou um grupo de trabalho (GT) de obras, voltado para atender a demanda da fachada, ressaltou, também, o enorme aprendizado e a superação de adversidades. “As reformas como um todo iniciaram em 2020, no meio da pandemia. Melhoramos ambientes internos e a fachada da General Canabarro. E em 2022 iniciamos, então, a etapa final da fachada da Riachuelo. Foi um trabalho coletivo e que ensinou muitas técnicas, e agora podemos mostrar, enfim, para a comunidade”, ressaltou.

Representando a copresidência feminina do IAB RS, Paula Motta, enfatizou o grande trabalho nem equipe que culminou na conclusão da fachada.

“Nada se faz sozinha, foi um trabalho coletivo tanto dessa gestão, quanto de nossos antecessores. Foi uma longa caminhada. Agora o prédio se abre para a cidade após presenciar diversas fases de nossa história, e é uma honra fazer parte desse momento”, finaliza.

Saiba mais sobre a inauguração: CLIQUE AQUI