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O legado do IAB

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“A difícil Arte de dar voz ao silêncio…                                                                  
Obrigação de todo poeta mas também da Arte de ver.”

(Octávio Paz) 

1. INTRODUÇÃO
Ao se avizinhar as comemorações do Centenário do IAB, algumas considerações exigem espírito crítico para a formulação de teses e propostas capazes de contribuir na montagem e na programação do evento. A primeira vista poderemos inferir deste título de que se pretende apenas pôr em curso um levantamento criterioso dos mais significativos trabalhos realizados pelo Instituto desde a sua fundação em 1921. A segunda vincula-se aos aspectos políticos que o acontecimento merece receber – balizado no reconhecimento público e pela sua história acumulada –  e venha a alcançar naturais repercussões no âmbito da sociedade. Refiro-me aqui ao propósito de que o centenário do IAB constitua-se em referencial e indicador do comportamento da categoria e de suas entidades perante a nação, legitimando as propostas que convirjam no sentido da participação dos arquitetos na construção da nova ordem humanitária e institucional. Ao promover um evento dessa natureza o IAB ao tempo que mantém a decisão de realizar o próximo Congresso da UIA deverá consolidar uma experiência de décadas e se impor a responsabilidade de coordenar todo o processo de discussão do qual espera emergir o rumo preferencial de suas ações. O acúmulo dessa experiência, indiscutivelmente, constitui um legado, soma invejável patrimônio e conceitualmente consagra a identidade e ideologia do IAB. A decisão de realizar essa comemoração rompe certo aspecto letárgico que vem predominando em alguns círculos do saber e da intelectualidade. Contagia pelo muito que promete e estabelece ingredientes capazes de satisfazer algumas personalidades mais inquietas.  Com ele, o IAB, reitera os seus liames com a natureza intrínseca de sua existência e propósitos – a produção do conhecimento – abrindo-se as dimensões multifacéticas de suas atividades: social, política, cultural e filosófica. Não se pode deixar de fazer menção a esse gesto afirmativo da atual diretoria em relação ao seu futuro e ao futuro da entidade.   Considero que o uso e o significado desse acervo, desenvolveram-se em três planos que se interpenetram e cumulativamente vem se completando no tempo.  Esses planos escoraram um exercício de liderança que corresponde aquele acento de imparcialidade, de inteligência e de base ética que universalmente tem dado o tom do seu comportamento frente ao corpo dos associados e substantiva suas relações com a sociedade brasileira de uma maneira geral. 
Talvez não seja de todo original, mas sumariamente, pode-se classifica-los em três vertentes distintas: o IAB como sociedade de arquitetos; o IAB e suas relações com o Estado; e, o IAB e a sociedade civil.  

1.1- O IAB COMO SOCIEDADE DE ARQUITETOS Esse plano define o seu caráter gremial e associativo alicerçados numa estrutura federativa que vem se expandindo e busca seu aprimoramento.  Globaliza intensa determinação na defesa da profissão, da cultura, do patrimônio histórico e ambiental e tem produzido material copioso para a afirmação do arquiteto e da arquitetura brasileira.  É reconhecida e inquestionável as contribuições do IAB, em debates abertos ou fechados, para o aprimoramento do ensino de arquitetura, da prática profissional e o exercício da crítica arquitetônica: A influência e a repercussão dessas manifestações podem ser medidas pelo número nada desprezível de eventos locais, regionais, nacionais, internacionais, congressos, seminários e concursos públicos, realizados no curso de sua história.  Capítulo específico, merecedor de destaque, refere-se às suas relações internacionais, nascidas do desejo de contribuir para a fraternidade entre os povos e na luta pela paz mundial. Ganha relevo sua participação e teses apresentadas junto à UIA e a FPAA.   Distingue-se como de extraordinária importância a força de opinião e da manifestação política assumidas nos fóruns latino-americanos em defesa da liberdade, da livre associação de ideias, da democracia, da cultura, e soberanias nacionais, particularmente, durante os anos mais negros e ferozes das ditaduras militares disseminadas ao sul do continente. Tantos acontecimentos a história recente anotou. “Os organismos representativos da classe que hoje se encontram multiplicados, cada um com sua vocação de formação, seja profissional, mercadológica ou cultural, disputando os poucos espaços entre si, necessitam de um repensar a respeito dos objetivos comuns que possam nos levar a uma unidade de atuação nunca se esquecendo que para que haja a produção de uma estética é necessário uma atitude ética. Coletiva ou individualmente pois, para nos individualizarmos, precisamos do coletivo”¹  

1.2- O IAB E SUAS RELAÇÕES COM O ESTADO O Instituto, nutrindo-se na serenidade e no princípio de independência que tão bem o caracterizam, definiu uma postura de crítica perspicaz e contundente das iniciativas governamentais sobre o habitat.  Vem cumprindo com desvelo sua missão de formador de opinião pública ao denunciar as falácias das políticas ligadas ao desenvolvimento urbano e rural, à habitação, ao meio ambiente, à cultura e à tecnologia.  Apontando as causas de suas falências, denunciando os danos que causam à vida da população, como também prevendo as possibilidades de êxito e de progresso em cada situação existente.  A par disso debruçou-se no estudo desses assuntos, produziu documentos, síntese e alentadas propostas para políticas urbana e habitacional.  Criou, para tanto, instâncias e espaços próprios para discussão ou congregou-se direta ou indiretamente à iniciativas públicas – oficiais ou privadas, em cujo seio se fez presente como consciência crítica da profissão assegurada na crença de que a arquitetura deve ser entendida como um canal de expressão cultural indiscutível e necessidade fundamental à vida de um povo.  Nesse ponto, permito-me uma digressão. 
“Hoje, paralelo a uma crise socioeconômica sem precedentes na história do Brasil, afigura-se um quadro de redefinições na institucionalidade vigente, desta feita, está em debate os papeis do estado e da sociedade civil – suas atribuições e poder.  Neste quadro, o IAB, enquanto contesta o poder de deliberação do estado sobre a profissão no Brasil (e esta deve ser a razão de sua existência). Enfrenta por consequência, o poder econômico e político.” 

2- O IAB E A SOCIEDADE CIVIL Em tempos mais próximos (recorde-se as décadas de 70 e 80) a indignação popular e a reorganização da sociedade civil situaram o IAB como parte do esforço que se amparou em incursões cujo ingrediente normal foi o jogo político da pressão legítima para se alcançar objetivos cada vez mais precisos de justiça social, de liberdade e democracia. O conteúdo e o direcionamento desse esforço haurido em senso crítico dedicado à realidade nacional, evidenciou que a prática de arquitetura, em nosso meio, não exigiu o aprofundamento das questões arquitetônicas nem o escoramento teórico necessário ao seu exercício.  O alto custo do espaço arquitetônico como objeto social, coloca os arquitetos frente a uma responsabilidade que ultrapassa os limites do imediatismo e dos modismos.  Por fim, que a falta de conhecimento e identificação de duas realidades, tem conduzido os arquitetos brasileiros a elaborarem obras mutiladas, de péssima qualidade, tanto do ponto de vista da construção quanto dos objetivos utilitários e sociais do seu trabalho.  Nos últimos tempos, assume graus de qualidade e grandeza diferenciada a participação do IAB nos conselhos (municipais, estaduais e nacionais) de desenvolvimento urbano e do meio ambiente.  Na discussão ou nas comissões de elaboração de planos diretores e leis orgânicas municipais, no trabalho com associações comunitárias, no generalizado e sempre atual debate sobre a cidade. Aí, posições ditadas pelo caráter e dimensão cultural do IAB e pelos sentimentos éticos que florescem nas questões coletivas é possível dimensionar os rumos que adotará para o futuro o Instituto de Arquitetos do Brasil. 

-Conclusão:  Apesar dessa fecundidade extraordinária o IAB ainda não foi capaz de criar as condições vitais para uma discussão sobre a arquitetura como cultura.  Quem sabe, as razões porque isso ainda não tenha ocorrido, resida na inexistência de uma “cara brasileira”, a falta da identidade nacional a qual nos apeguemos.  Por essa razão, há ainda um tema essencial para se incluir nesse debate uma atitude perante a característica do nosso meio profissional.  Constituído por arquitetos de diferente gerações formados em distintas regiões do país com diferentes visões da realidade brasileira e atuando nos mais diversos campos da atividade profissional, por essa razão, com interesses nem sempre coincidentes.  Tais condições aliadas ao sopro benfazejo de um maior grau de liberdade no fazer arquitetônico abrem uma clareira que permite retomar a discussão dos problemas da arte e da cultura numa perspectiva brasileira.  Os problemas da arquitetura, de sua materialização, de sua especificidade, como expressão cultural dependente ensejam um afiadíssimo desafio para todos. Nesse gesto e em tantos outros no porvir, o compromisso inarredável com a nossa terra e o seu povo, deve servir de lastro e matéria prima para a expressão do saber arquitetônico. 

No IAB, lugar privilegiado, deverá se travar o diálogo com nossos pares e com o mundo da cultura, da profissão e do poder, compartilhando com a sociedade os frutos dessa dialética.  Estas intenções quedarão inertes se os Departamentos e suas lideranças não se dispuserem ao compromisso de se responsabilizar, também, pela condução e encaminhamento das atividades e objetivos definidos pela Direção Nacional e seu conselho superior. Outra consideração fundamental refere-se ao atual momento político. Novos ventos sopram por esta vasta terra brasileira e conduzem-na ao encontro do seu destino.  À medida que vai-se revelando a verdadeira extensão da tragédia que se abateu sobe o país nos últimos tempos. Fecham-se os espaços de diálogo e recursos e tomam lugar a resistência e a ação política contra a ordem resultante do caos e contra a moderação surgida de uma sociedade sem rumos. Ora, sem desprezar o horizonte possível de cada tempo é fácil perceber que um novo capítulo da história brasileira deverá se iniciar através de um amplo diálogo nacional. Nele estarão certamente, presentes, as questões relativas à ocupação do território nacional, a política de desenvolvimento urbano, de preservação do meio ambiente e da construção do espaço habitado. É por aí que a nação verá restabelecida a sua plenitude democrática alicerçada sobre os pressupostos da igualdade e da participação. 

Aquele que se colocar ou se deixar colocar à margem de tal processo, só poderá contar consigo mesmo, com seu isolamento e com as “urgências” do imediatismo.  O IAB, a FNA, a ABEA e o CAU como partes integrantes da sociedade brasileira não podem omitirse do processo político que pretenda a superação da violência institucionalizada pela ordem socioeconômica e política vigente, pelo contrário, devem estimular a categoria no sentido da participação e da contribuição fecunda a construção de um Brasil justo e fraterno onde todo o povo desmarginalizado tenha os seus direitos assegurados. Inclusive os arquitetos.  

Todavia, não percamos de vista o horizonte mais largo aonde se situa o nosso direito e o de todos os trabalhadores de exercerem de fato o domínio e a autoridade absoluta sobre as questões profissionais, a disciplina do cumprimento dos seus objetivos e o discernimento acerca do pensar e manifestar as ideias que induzam a aglutinação e ao fortalecimento do IAB, no qual o sopro do conhecimento e a força criadora da imaginação e do trabalho humano sobrepujarão a crueldade das desventuras do homem sobre a terra. 

“Viver não é um empurrão em direção a um poço, mas um lento e comprometido exercício em direção a liberdade.”      

Campelo Costa / IAB-CE Praia de Iracema, Janeiro/2021

Por: Diretoria Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB

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