Poluição Visual é um termo já consagrado, mas se trata aqui de uma classe especial de interferência no ambiente, que menos afeta à natureza do que a nós, seres humanos. Ironicamente, o dano incide justamente sobre uma das características que distinguem nossa espécie, a capacidade de atribuir valores simbólicos aos espaços que habitamos, e que nos guia nesse espaço. Isto é, a poluição visual afeta a legibilidade do espaço, seu valor simbólico e os valores que nos comunica e que lhe atribuímos. Elementos de comunicação em excesso produzem uma desarmonia que ultrapassa a capacidade humana de leitura do espaço, e amortece a percepção. É verdade que nossa capacidade de abstração desses estímulos é grande, mas devemos distinguir entre o que é tolerável e o nível de funcionalidade e conforto, e aqui está a grande polêmica que enfrentamos ao contrariar os poderosos interesses de uma indústria que utiliza de forma predatória um bem público, a Paisagem. Falamos do márquetim, na sua mais agressiva encarnação, a chamada “mídia exterior”. Sua busca por espaços para nos impingir imagens publicitárias das quais não conseguimos desviar, pois invadem o espaço público, principia a alterar e corromper o caráter de nossas cidades. Bairros históricos, belezas naturais, as ambiências urbanas, nada é obstáculo frente à necessidade feérica de oferecer esses espaços para os anunciantes, muitas vezes levados a anunciar pela concorrência, já que o meio não tem grande eficiência, apesar do baixo custo. São justamente os espaços mais característicos os mais procurados, justo os que mais afetam a comunidade.
Qual o valor da própria imagem para uma comunidade? Se o patrimônio físico de algumas corporações vale por vezes menos que sua logomarca, qual será para uma capital como Porto Alegre, que luta no mundo contemporâneo para atração de investimentos, o valor da Paisagem que a simboliza? Devemos começar a pensar nesses termos quando grupos de pressão empresariais e políticos ameaçam nossa paisagem com desregulamentação de mídia exterior, sob o argumento falacioso de que pretendem gerar empregos e renda, às custas do bem estar da comunidade. E os empregos do comércio e turismo perdidos pela devastação de nossas belezas paisagísticas? E o conforto e bem estar do cidadão? E a fuga das empresas de uma cidade – fato já observado em S. Paulo – que não apresenta qualidade de vida?
Cabe a toda a sociedade, mas especialmente a nós, Arquitetos e Urbanistas, a denúncia da agressão ao ambiente humano, pois nós detemos o saber arquitetônico que permite antever as péssimas conseqüências dessa escalada de destruição do tecido urbano. Valorizemos a nossa profissão, valorizando o nosso objeto, o espaço de vida do ser humano. Carlos Alberto Sant’Ana
Arquiteto e Urbanista
Servidor do Município de Porto Alegre na Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMAM)
Equipe de Controle e Combate à Poluição Visual
IAB RS integrou delegação brasileira presente no Fórum Urbano Mundial (WUF) no Egito
A co-presidente da entidade, Clarice de Oliveira, participou das atividades entre os dias 4 e 8 de novembro, na cidade do Cairo. O tema da edição foi “Tudo Começa em Casa: Ações Locais para Cidades e Comunidades Sustentáveis”.