Com a mudança, ainda este ano, do IAB-RS para o Solar do Conde, já se começa a pensar no destino que terá a primeira e atual sede do Instituto na rua Annes Dias. O “Jornal do IAB” reuniu os participantes da construção do edifício, nos difíceis anos 60, para documentar com seus depoimentos esse importante período da história do IAB-RS, que por razões políticas e sociais conhecidas, está bem vivo também na memória da sociedade brasileira. Nos anos 50 o Departamento do IAB no Rio Grande do Sul funcionava no escritório dos seus presidentes. Irineu Breitman, que dirigiu o Instituto de 58 a 61, conta que o sonho da sede própria se fortaleceu no grupo de arquitetos, segundo ele, jovens e audaciosos.
O começo, conta, foi uma seqüência de desilusões. ”Tínhamos a esperança de, a exemplo de Sociedade de Engenharia, conseguir que a Prefeitura doasse um terreno. O então prefeito, Loureiro da Silva, o primeiro a se preocupar com urbanismo e considerado amigo dos arquitetos, desfez essa ilusão argumentando que a Prefeitura não dispunha mais de terrenos. O segundo golpe veio quando tentamos, com a influência do Senador Guido Mondim, obter um financiamento na Caixa Econômica Federal que viabilisasse a compra do terreno, e que foi negado por falta de recursos”.
Foi então que surgiu a idéia de fazer um empreendimento imobiliário a preço de custo e foi comprado o terreno na rua Annes Dias.
Junto com Flávio Soares, tesoureiro do IAB nessa gestão, Irineu recebeu procuração plena do IAB para vender o empreendimento. ”Em um ano conseguimos liberar o terreno, onde havia duas casas velhas habitadas, e vender os primeiros títulos que possibilitaram recursos para iniciar a obra em 1960” , explica ele.
Um concurso foi realizado para escolha do projeto da futura sede. O vencedor foi Carlos Maximiano Fayet, então um jovem arquiteto que se revelava em projetos importantes, como o do Tribunal de Justiça do Estado.
O PROJETO
A proposta de Fayet apresentava inovações. ”Para o terreno estreito e de difícil aproveitamento, projetei um prédio sem corredores, com uma escada no centro formando um grande espaço” , explica.
Outra solução, nova para a época, foi a marquise utilizável.
O elevador, detalhado pelo arquiteto Armínio Vendauser, foi o primeiro no Brasil, e talvez no mundo, com piso de pedra e com botoneiras magnéticas. As portas de vidro temperado também inovaram. A intenção era permitir a visualização das portas coloridas em cada um dos nove andares do prédio.
O prédio do IAB foi a primeira construção em Porto Alegre a utilizar canos de PVC.
O CONSTRUTOR
Membro da turma de arquitetos que impulsionava o IAB-RS, o engenheiro Salomão Almaleh, participante das campanhas em favor da criação da Faculdade Arquitetura, assumiu a construção do edifício sede integrando-se ao grupo formado por Irineu Breitaman, Carlos Fayet e Flávio Soares.
Para transformar os títulos vendidos em dinheiro adiantado, que viabilizasse o andamento da obra, o IAB precisava negociar esses títulos. E aí entra a inestimável colaboração de Almaleh. “Meu pai, Rhamin, era um empreendedor imobiliário e avalizou os títulos do IAB para que pudessem ser descontados no Montepio da Família Militar, que tinha como diretores, na época, Daniel Monteiro e Hélio Prates da Silveira” , explica.
A construção do prédio durou cinco anos, de 60 a 65.
Os administradores da obra buscavam alternativas que viabilizassem a sua continuidade. “Trocávamos material elétrico e hidráulico por área do prédio em construção. E os materiais que comprávamos com descontos distribuíamos em partes iguais entre os adquirentes” , conta Almaleh.
A IDENTIFICAÇÃO DO IAB COM A CULTURA
Eleito em 65, o arquiteto Cláudio Araújo foi o primeiro presidente a instalar-se na nova sede, de 66 a 67.
Ele lembra que “desde a sua ocupação, a sede do IAB logo se identificou com o mundo cultural da cidade”.
As Comissões do Instituto – comissão de ensino, de urbanismo e de arquitetura – movimentavam, com seu trabalho, dentro do IAB, grupos da sociedade. “Era como se a nova sede tivesse acendido uma chama de entusiasmo nos arquitetos” , explica.
Foi instalada nessa gestão uma galeria de arte, orientada por Francisco Stokinger, artista já reconhecido nacionalmente na época.
A primeira exposição foi de trabalhos do arquiteto Flávio di Carvalho, artista excepcional e com obras no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
A galeria de arte do IAB tinha um espírito diferente. “As pessoas vinham para discutir artes e assuntos da cultura. Vivíamos tempos difíceis, vigiados e controlados e o IAB era uma força cultural na cidade onde artistas como Bruno Kieffer, Vasco Prado e Henrique Furho, entre outros, eram freqüentadores” , lembra Cláudio Araújo.
O IAB foi palco de grandes eventos, que marcaram a vida cultural da Capital, como a exposição da Oca, com a presença do arquiteto Sérgio Rodrigues, a palestra de Humberto Eco e do presidente do BNH na época, Mário Trindade.
BAR DO IAB: O PRIMEIRO PALCO DE “TANGOS E TRAGÉDIAS”
“Esta sede é um símbolo, é mais que um espaço físico. Foi um centro cultural e uma das tribunas democráticas de Porto Alegre” (Carlos Fayet)
“De 65 a 67 a casa de cultura de Porto Alegre foi o IAB”. (Cláudio Araújo)
“Almaleh foi quem nos ensinou a gerir os negócios da incorporação que possibilitou a construção da sede do IAB. Ele foi a pedra que calçou todo o empreendimento”. (Irineu Breitman)
“Flávio Soares foi um batalhador pelo IAB” (Irineu Breitman) “Estou feliz com o registro dessa parte da história do IAB” (Salomão Almaleh)
Portugal, 50 anos da Revolução dos Cravos
No dia 25 de abril Portugal relembra os 50 anos da Revolução Portuguesa. Nesta data, em 1974, ocorreu o evento conhecido como Revolução dos Cravos, marcando o fim da ditadura salazarista. Para relembrar a data, o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Rio Grande do Sul (IAB RS) e a ADUFRGS Sindical, com apoio do Consulado Português, inauguram a exposição “Portugal, 50 anos da Revolução dos Cravos”, a partir de uma coleção de cartazes da época colecionados pela arquiteta e pesquisadora Daniela Fialho. A abertura ocorrerá no dia 25 de abril, às 18h45, no Solar do IAB (Rua General Canabarro 363, Centro Histórico, em Porto Alegre). A entrada é franca.