Essa semana o IAB RS contou com dois eventos para discutir temas da cidade, planejamento urbano e habitação popular. Na noite desta quinta-feira (30/11) foi a vez do IAB RS receber a arquiteta e urbanista Maria Elisa Baptista, de Belo Horizonte, que falou sobre “Habitação popular e a educação do arquiteto e urbanista”. Ela destacou as relações de convivência, múltiplos tipos de família e concepção de lugares. “Estamos lindando com uma coisa muito frágil e delicada que é o lar das famílias, por isso a habitação popular não pode ser tratada em cima de metragem e planilhas”, destacou.
Maria Elisa acredita que o capital imobiliário não pode desenhar a cidade. Segundo ela, o alerta apontado, por exemplo, no programa Minha Casa Minha Vida, trouxe na prática um instrumento de terceirização e um programa de financiamento de modelos prontos e insustentáveis. “Foi um erro que nós vamos pagar caro por muito tempo, fora que foi um desperdício de movimentar a economia brasileira. Perdemos a chance de apreender e pensar nosso espaço para prosperar”, criticou Maria Elisa, que é coordenadora de Curso e Chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas e Conselheira Federal do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU).
Já na noite de quarta-feira (29/11) o IAB RS promoveu mais uma edição do Ciclo Plano Diretor, com o debate "Cidade e seu Planejamento: de Onde para Onde?" com a participação de Alexandre Santos, Eber Pires Marzulo e Wrana Panizzi. O arquiteto Eber Pires Marzulo começou o evento abordando a ação do Estado, população e território. Para o arquiteto, esses elementos são também é o espaço que será modernamente estabelecido como a circuncisão das ações do mercado, ou seja, o ambiente onde dão as trocas de mercadoria. “Me parece fundamental tratar sobre isso se pensarmos a contemporaneidade como momento de crise da experiência moderna”, destacou Marzulo, alertando ainda que esse contexto parece problemático na constituição do planejamento urbano.
“O plano de 1979 que utilizou o zoneamento para orientar o futuro da cidade, tendo como base o poder a partir do Estado. Esse plano expressou a ideia do modernismo fundada no zoneamento, através de áreas de usos particulares, ou seja, a proposta foi organizar as cidades por uso, seguindo a racionalidade, a segmentação do projeto investigado e atribuição de funções específicas”, refletiu Marzulo.
Wrana Panizzi questionou como nós vamos construir o plano diretor de Porto Alegre como um trabalho coletivo, respeitando os conflitos de Estado e sociedade? “Não temos o processo de planejamento urbano instituído em Porto Alegre, não de agora, mas já de um certo tempo”, criticou Wrana. Temos que discutir e entender as relações sociais que se estabelecem neste processo. “Nunca olhamos a cidade como um todo. As políticas urbanas foram habitacionais para atender uma demanda as necessidades de forçar uma política econômica da construção civil”, observou.
O arquiteto Alexandre Santos trouxe para a palestra o tema de sua dissertação “O Lugar dos Pobres na Cidade” apresentando a desigualdade no espaço urbano citando a periferia de São Francisco de Paula. Ele questionou como incluir essa borda urbana à cidade? Sobre as dimensões do planejamento urbano, Santos trouxe tópicos do Estatuto da Cidade, citando a tentativa de criar espaços democráticos na cidade. Para ele, existem três mitos. O primeiro é a estratégia, a cidade é incontrolável, a política nos escapa, principalmente por influência da economia. A segunda é a participação, onde a política não desenha. E a terceira é a base de evidências, ou seja, entender a cidade de maneira mais sistêmica para poder planejar. “Mesmo assim, acredito que temos possibilidades de avanços”, destacou Alexandre.