Receba Newsletter

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!

Um Legado às Futuras Gerações

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin

Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre

Exmos. Srs. e Sras. Vereadores e Vereadoras Municipais,

Srs. e Sras. da Assistência deste Plenário.

Mais uma vez o Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento Rio Grande do Sul vem a esta Casa manifestar-se em questão de interesse publico, a propósito da votação de emendas à atualização do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental da cidade de Porto Alegre. O IAB-RS manifesta-se abertamente desde este democrático instrumento da tribuna popular, para expressar sua preocupação com o rumo do desenvolvimento da cidade de Porto Alegre desde a promulgação do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental – Lei Complementar 434 em 1999.

Não constitui novidade o posicionamento da nossa entidade, que sempre alertou por seus documentos oficiais que o PDDUA, da maneira como foi elaborado poderia constituir um problema ao desenvolvimento de Porto Alegre. Incoerentemente, a Lei Complementar 434/99 que propõe-se um plano diretor “ambiental” e “preservacionista”, “participativo”, na aplicação prática revelou-se um instrumento de renovação urbana acelerada e com mecanismos de controle social extremamente imperfeitos e sujeitos a manipulação desavergonhada e uma discricionariedade injustificada e perigosa.

Em que pese o PDDUA haver antecipado inúmeras conquistas posteriormente incorporadas ao Estatuto da Cidade, e ter assumido pelo menos nominalmente teses há muito tempo defendidas por nossa entidade e diversos movimentos sociais e de profissionais do urbanismo, de ter sido inspirado por democráticos instrumentos de consulta popular como o Congresso da Cidade, sua tradução em texto legal incorporou uma visão reducionista do planejamento urbano sujeita apenas à questão da valoração da terra e seu potencial construtivo. Longe ficou de ser um instrumento de democratização do acesso à terra, à propriedade e resolução da dívida social brasileira. Longe está de ser um instrumento de preservação do privilegiado ambiente e paisagem que Porto Alegre ainda ostenta, das tradições culturais e do modo de vida de nosso povo e da promoção de uma economia solidária e distributiva.

Muito pelo contrário, as proposições do PDDUA que tiveram aplicação direta foram apenas as expressas no plano regulador e flexibilização de projetos especiais do setor privado. Restaram como promessas jamais cumpridas a implantação de todas as demais questões relativas ao monitoramento do desenvolvimento da cidade, um plano acabado e coerente de mobilidade urbana, de proteção de áreas especiais culturais e ambientais, de proteção da paisagem e a continuidade de avaliação do desenvolvimento da aplicação do plano.

Como conseqüência, vemos o patrimônio cultural e ambiental descartado em favor da homogeneização da paisagem em toda a cidade, que perde sua identidade a cada dia. Também vemos catastróficas tendências de expansão da frota automobilística, compelida pela forma incoerente como os problemas de mobilidade são encarados pelo poder público, que incentiva e permite instalação de equipamentos concentradores de atividades, localizados de forma pouco equilibrada e incentivando ao uso do transporte individual.

Muito profunda é a transformação que a cidade sofre com a perda de inestimáveis parcelas de ambiente natural e de sua paisagem, assuntos que raramente são objeto de proteção ou lei, mas que levantam multidões apaixonadas, como recentemente se viu em uma consulta pública. É triste e preocupante vermos a cidade expandir sua área deixando para trás vazios urbanos sem uso e sem desenvolvimento, mas atendidos por infra-estrutura urbana à espera de valorização.

No tocante à economia, a cidade testemunha a indústria da construção civil sofrer com a ocupação do mercado local por empresas de outros estados, conjuntamente com o fechamento do mercado local para as pequenas empresas, o favorecimento dos monopólios e oligopólios e do grande capital. Vemos os monopólios avançarem sobre o comércio da capital expulsando o pequeno empreendedor para os mercados mais inseguros, em desfavor do consumidor e do desenvolvimento harmônico.

Os efeitos do PDDUA em Porto Alegre são sensíveis e suscitaram um inédito movimento popular que nos últimos anos clama por um planejamento urbano mais transparente, contra o uso de meias verdades para justificar medidas com finalidades ocultas. Esses movimentos populares espontâneos têm voz muito mais forte e assídua nesta casa que nossa entidade, para que ousemos interpretá-los. Mas são a manifestação legítima de uma consciência democrática crescente, que representam a maioria silenciosa, como se viu no recente referendo popular acerca de uma emenda ao PDDUA, que motivou milhares de pessoas a dedicarem seu tempo precioso para manifestarem-se sobre uma questão urbana.

No entanto, os mecanismos do PDDUA são falhos em garantir uma representação justa no sistema que tem incumbência de administrar a aplicação do Plano Diretor, e isso gera descrença e desesperança na população, levada a crer que é impedida e desestimulada a apropriar-se dos mecanismos de participação no planejamento e processos de decisão estratégicos. Vemos isso na escolha dos componentes do Conselho do Desenvolvimento Urbano e Ambiental, por exemplo, que está em curso e carece de regulamentação mais democrática.

Senhores, nossa presença nesta tribuna hoje não é para repetir fatos que são de conhecimento de todos, a esta altura do debate legislativo. Estamos em pleno processo de votação das emendas ao Plano Diretor, e o futuro da cidade está sendo decidido. Se há contribuição que o Instituto de Arquitetos do Brasil pode dar nesse momento, em que o objeto da profissão de arquiteto e urbanista é central para o desenvolvimento da cidade, é colocar-se à disposição dos poderes constituídos para colaborar na busca de um futuro menos sombrio. Como entidade representativa que historicamente defende a arquitetura e urbanismo como instrumento de solução de problemas sociais, o IAB-RS não está comprometido com interesses ocultos ou com imediatismo econômico. .

O processo de planejamento nos leva fazer escolhas, que legaremos às gerações futuras. Um legado que vai além da localização de estruturas, atividades ou do comércio de bens. O grande legado do planejamento urbano são os valores que o norteiam, que dizem o que podemos descartar ou eleger, os valores fundamentais que refletem a profundidade do planejador.

Quais serão os valores que herdarão os porto-alegrenses do futuro? Serão eles condenados a não herdarem qualquer laço com sua origem? Serão condenados a não disporem de bens que desfrutamos hoje, como ar, céu, horizontes? Poderão estabelecer com seu espaço existencial uma relação de identidade, sentindo-se seguros ao trafegar em Porto Alegre? Irão dispor de tranqüilidade para planejar sua vida, livres para deslocar-se pela cidade? Terão do que se orgulhar por serem porto-alegrenses?

Preocupa-nos a possibilidade de o PDDUA ser um transmissor de NENHUM valor às futuras gerações. Se Persistir a tendência de atribuir-se à cidade apenas o valor mercantil, poderemos perder a vinculação com nossa cidade. Um objeto reduzido a mercadoria não transmite valor algum, pois subordina qualquer consideração ao lucro. Se a elaboração de um projeto de cidade for dominada por essa visão, teremos não uma cidade, mas uma unidade de produção e consumo, e sem cidade não teremos cidadãos. Sem a cidadania, a civilização se degrada, o homem reduzido a consumidor e produtor degrada sua humanidade. Uma sociedade pouco humana será pouco civilizada. A violência, a incivilidade que vivemos e assombra nossa época não tem outra causa do que a exclusão e a diminuição da condição humana.

Senhores representantes do Legislativo de Porto Alegre, longe estamos de defender posições extremistas e utópicas, de fazer discursos vazios de conseqüência por pregar um outro mundo, embora seja sim, possível. Reconhecemos a realidade do mercado como elemento fundamental a impulsionar o desenvolvimento. O que aqui viemos lembrar é que deve haver critérios na tomada de decisões. A cidade é feita de homens e não de pedras. São as pessoas a finalidade do fenômeno urbano. É a elas que nós arquitetos e urbanistas servimos no exercício de nossa profissão. A cautela quanto às considerações que visam unicamente o atendimento de objetivos corporativistas e imediatistas é uma precaução econômica. Invocamos o testemunho da grande crise internacional, derivada do descontrole e desregulamentação do Capital que arruinou vidas ao redor do mundo. Não queremos que o futuro veja a vida dos porto-alegrenses tornar-se pior e mais cara por conseqüência de nossa omissão.

No ano passado, 2008, o IAB-RS colaborou ativamente com a Câmara Municipal de Porto Alegre na organização da discussão “Porto Alegre do Futuro”. Essa proveitosa parceria é para nos uma vitória, pois coloca a questão do planejamento urbano no centro da cena política. O IAB defende sempre a realização de um planejamento técnico alicerçado na vontade popular, nos valores democráticos e plurais. Defende que o desenvolvimento deve ser para todos, em nosso estatuto esta inscrita lapidarmente a solução dos problemas habitacionais do Brasil.

Em nome dos arquitetos e urbanistas associados do Instituto de Arquitetos do Brasil, muito obrigado.

IAB - RS

Por: Diretoria Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB

Outras Notícias

Na mídia: Diretora adjunta de comunicação do IAB RS, Karolina Silva participou de bate-papo sobre mobilidade e mudanças climáticas, na TVE

O tema mobilidade urbana e mudanças climáticas, cada vez mais urgente em todas as esferas de debate, foi tema do programa Rodar, da TVE RS, apresentado por Pati Salvadori, na noite do dia 25 de abril. O bate-papo contou com a presença da diretora de comunicação adjunta do IAB RS, karolina Silva, e da ciclista e ativista Carol Strüssmann.

Leia Mais →

Portugal, 50 anos da Revolução dos Cravos

No dia 25 de abril Portugal relembra os 50 anos da Revolução Portuguesa. Nesta data, em 1974, ocorreu o evento conhecido como Revolução dos Cravos, marcando o fim da ditadura salazarista. Para relembrar a data, o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Rio Grande do Sul (IAB RS) e a ADUFRGS Sindical, com apoio do Consulado Português, inauguram a exposição “Portugal, 50 anos da Revolução dos Cravos”, a partir de uma coleção de cartazes da época colecionados pela arquiteta e pesquisadora Daniela Fialho. A abertura ocorrerá no dia 25 de abril, às 18h45, no Solar do IAB (Rua General Canabarro 363, Centro Histórico, em Porto Alegre). A entrada é franca.

Leia Mais →

Outras Notícias

Documentário “Vozes da arquitetura Porto Alegrense” encerra programação de aniversário do IAB RS

O último dia da programação especial que comemorou os 76 anos do IAB RS foi marcado pela exibição do documentário “Vozes da Arquitetura Porto Alegrense”. O filme, produzido pela entidade com apoio institucional do CAU/RS, reuniu depoimentos de 19 profissionais, que falaram sobre a profissão e suas percepções envolvendo aspectos como criatividade, coletividade e outros significados. Além da exibição, foram anunciados dois editais de cultura. 

Leia Mais →

NOTA PÚBLICA

As entidades Associação dos Técnicos de Nível Superior de Porto Alegre (Astec), Instituto de Arquitetos do Brasil – Depto Rio Grande do Sul (IAB RS), Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico (IBDU), ONG Acesso Cidadania e Direitos Humanos e Sociedade de Economia do Rio Grande do Sul (SOCECON) entraram com ação ordinária a fim de denunciar irregularidades identificadas no edital e processo eleitoral do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental – Biênio 2024/2025. 

Leia Mais →

Desafios do planejamento urbano e gestão em Porto Alegre foram temas de debate no IAB RS

A relação envolvendo o setor imobiliário e a administração pública na Capital, bem como os desdobramentos da revisão do Plano Diretor e as eleições para o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e Ambiental (CMDUA), foram alguns dos tópicos abordados no debate “Planejamento Urbano e Gestão: desafios atuais e perspectivas futuras para Porto Alegre”, que ocorreu no dia 28 de março na sede do IAB RS, em Porto Alegre.

Leia Mais →

Arquiteta Enilda Ribeiro é homenageada em evento do IAB RS

Para comemorar os 76 anos do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Rio Grande do Sul (IAB RS), a entidade planejou uma série com três eventos especiais para debater a profissão, relembrar a história e preservar memórias. Na primeira atividade, a palestra “Acervos em arquitetura e urbanismo – homenagem a Enilda Ribeiro” promoveu o encontro entre o professor da FAUUSP e coordenador da biblioteca da FAUUSP, Eduardo Costa; o membro do conselho consultivo do Centro de Memória CAU/RS, José Daniel Simões; e a copresidente do IAB RS e responsável pelo projeto documental, Bruna Tavares. 

Leia Mais →