Receba Newsletter

Captcha obrigatório
Seu e-mail foi cadastrado com sucesso!

ARQUITETURA: O IMORTAL OSCAR NIEMEYER

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Ao visualizar a longa e profícua trajetória de quase oitenta anos de produção arquitetônica de Oscar Niemeyer, vamos encontrar um conjunto de obras que já o imortalizaram, especialmente aquelas concebidas entre 1936 a 1962, isto é, do Edifício-sede do então Ministério da Educação e Saúde Pública (atual Palácio Capanema, 1937-1943), na Esplanada do Castelo, no centro da cidade do Rio de Janeiro ao Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores (1962), na Esplanada dos Ministérios em Brasília.
Neste período, Niemeyer realizou obras que o colocaram ao nível dos maiores nomes da arquitetura mundial. Lauro Cavalcanti, diretor do Paço Imperial do Rio de Janeiro e professor da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, com absoluta propriedade disse, recentemente, em entrevista a revista aU, que “Niemeyer foi o primeiro e único artista visual brasileiro a contribuir, de modo efetivo, para delinear a linguagem internacional de seu campo profissional”. De fato, o arquiteto carioca desempenhou um papel significativo na trajetória da arquitetura moderna do século XX.
Para começar, teve participação decisiva na condução da solução final do projeto para o Edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde Pública, como depôs Eduardo Vasconcellos (professor da Faculdade de Arquitetura da UFRJ), filho de Ernâni Vasconcellos, um dos arquitetos que compôs a equipe liderada por Lucio Costa, e que teve a consultoria de Le Corbusier. Cavalcanti salienta a importância da obra “por ser o primeiro arranha-céu com fachada de vidro no mundo”. Em depoimento dado em 1992, Lucio Costa lembrou que foi ao longo do desenvolvimento do projeto deste edifício que Niemeyer começou a demonstrar com maior evidência as suas aptidões.
No final da década de 1930, teve nova oportunidade de unir seu talento ao de Lucio Costa, cujo prestígio já havia se consolidado,  ao realizarem o surpreendente Pavilhão do Brasil na Feira de Nova Iorque (1938-1939). Neste projeto, a capacidade intelectual dos dois arquitetos, surpreenderam os norteamericanos. A obra inaugura a adoção das formas curvas que marcariam a carreira de Niemeyer. A repercussão do pavilhão resultou em uma exposição Brazil Builds no Museum of Modern Art (MoMa), de Nova Iorque, acompanhada de um livro-catálogo, elaborado pelo arquiteto Philip L. Goodwin, com fotografias de G. F. Kidder Smith. Decolavam definitivamente as trajetórias dos dois arquitetos, especialmente a de Niemeyer, e com eles,  também o grupo de arquitetos que compuseram a chamada “Escola Carioca”, dos quais merecem especial referência Affonso Eduardo Reidy, Jorge Machado Moreira e os chamados MMM Roberto (Milton, Marcelo e Maurício).
Ao voltar ao Brasil, concebeu o Grande Hotel de Ouro Preto (1940), um desafio inédito no contexto nacional, projetar uma nova edificação a ser inserida em cenário urbanístico consolidado desde o século XVIII. Se ali não veio uma resposta com absoluta precisão, conseguiria logo depois ao construir junto da Igreja de Nossa Senhora da Candelária, na Praça Pio X, no centro do Rio de Janeiro, o edifício-sede do Banco Boa Vista (1946).
Na Pampulha, em Belo Horizonte, é que se afirma definitivamente, apoiado pelo jovem prefeito, Jucelino Kubitschek de Oliveira, ao realizar uma espécie de “antropofagia” do modernismo, como também afirmou Cavalcanti. Dos projetos desenvolvidos na Pampulha, dois merecem menção especial, o então Cassino (1940-1942), hoje Museu de Arte Moderna, e a Igreja de São Francisco de Assis (1940).
Na década de 1950, o Edifício Copan (1951), o conjunto de edificações do Parque do Ibirapuera (1951-1955), todos em São Paulo, e a Residência das Canoas (1953), na Estrada das Canoas, no Rio de Janeiro, concebida para si, são as obras mais importantes.
Em Brasília sua carreira chega ao ápice. Nela, sua arquitetura – concebida no período entre 1957 e 1965 – conseguiu alavancar o paradigma da maneira de pensar o urbanismo moderno, expressado pela concepção de   Lucio Costa. Se nas últimas décadas não realizou obras do mesmo quilate das primeiras, na capital federal, ao menos conseguiu expressar as transformações ocorridas na sociedade brasileira. Os Palácios da Alvorada (1957) e do Planalto (1958), o Palácio do Supremo Tribunal Federal (1958), o Congresso Nacional (1958), o Palácio do Itamaraty (1962), e a Catedral (1959), são suas obras de maior magnitude na cidade.
No perído pós-Brasília, isto é, de meados dos anos 1950 aos dias de hoje, Niemeyer continuou a projetar uma quantidade impressionante de obras, entretanto, o vigor do período anterior e a capacidade de inovação não foi mais o mesmo. Merecem destaque, neste período, a sede do Partido Comunista Francês (1965), em Paris (França), o Edifício-sede da Editora Mondadori (1968), em Milão (Itália) e o conjunto de edificações para a Universidade de Constantine (1969), em Argel (Argélia).
Lamentavelmente, no Rio Grande do Sul, Niemeyer realizou muitos projetos mas viu edificados apenas a chamada Casa do Povo (1985-1988), em Vacaria, além dos Memoriais da Coluna Prestes (1996), em Santo Ângelo, e a Getúlio Vargas (2004), em São Borja. Na década de 1940, elaborou um projeto para um Edifício-sede para o Instituto de Previdência do Estado (1943), que lastimavelmente não foi construído. Certamente teria qualificado a paisagem da área central da capital gaúcha e estaria entre suas obras significativas.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) notabilizou-se por prematuramente reconhecer como patrimônio cultural de uma nação não só a produção do passado, mas também do presente. Todas as obras modernas que foram tombadas possuem a assinatura de Niemeyer. A Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha (1947); o Edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde Pública (1948); a Catedral de Brasília e a Cidade de Brasília (1990). Tal reconhecimento, é necessário que se esclareça, deu-se pelas ameaças de descaracterizações com que tais edificações ou conjuntos estiveram submetidas, mas se não fosse a excepcionalidade de cada uma, jamais teriam chegado a tão privilegiado status.
A trajetória aqui descrita o colocou em evidência no cenário internacional e o credenciou a  receber o cobiçado Prêmio Pritzker, o equivalente ao Prêmio Nobel no campo da arquitetura, na edição de 1988. Sua marca pessoal pode ser sintetizada na exploração das potencialidades do concreto como poucos, em edifícios esculturais que demonstram categoricamente a indissociabilidade entre a arquitetura e a estrutura; no privilégio da venustas associada a firmitas  em relação a utilitas (crítica maior de seus oponentes), chegando a afirmar que a razão é inimiga da imaginação; e mesmo, ignorou referências, funções e normas na busca pelo novo e pelo surpreendente, parafraseando Simone Capozzi. Aliás é a palavra surpresa a que possivelmente melhor possa resumir sua obra e sua vida.
Ainda que tenha dedicado sua vida à arquitetura, sempre colocou a vida acima de tudo. Basta ler sua biografia para ver que a desfrutou sem parcimônia sua existência centenária. Exerce a cidadania com plenitude, e sua militância comunista reforça a amargura que lhe domina e revolta ao perceber que nada mudou, referindo-se especialmente à pobreza. Nos instantes de reflexão, confessa que a arquitetura desaparece. “Gosto de ficar sozinho a pensar na vida, neste universo que nos encanta e humilha. De sentir a fragilidade das coisas e a nossa própria insignificância”, disse. Mas não desiste, pois acredita que a vida será um dia mais justa e solidária. Como afirmou, “é preciso a noite para surgir o dia”.
Para um arquiteto que chegou aos 104 anos de idade e desenvolveu uma quantidade impressionante de projetos, jamais alcançada por outro profissional, é possível afirmar com convicção que Niemeyer é impar, e essa condição já o faz imortal.

Por: Diretoria Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB

Outras Notícias

Preparem suas equipes! Em breve será lançado o Concurso para Requalificar Entorno do Lago Joaquina Rita Bier em Gramado/RS

A Prefeitura de Gramado (RS) anunciou que realizará um concurso público de arquitetura e urbanismo com o objetivo de selecionar as melhores propostas para a requalificação do entorno do Lago Joaquina Rita Bier. O edital e as demais bases do concurso, organizadas pelo IAB RS, já estão em elaboração e devem ser publicadas em breve, sendo prevista ampla divulgação nas redes sociais do IAB RS e da Prefeitura de Gramado, além das publicações oficiais.

Leia Mais →

Ministério Público de Contas de Porto Alegre recebe denúncia de entidades sobre leis que envolvem planejamento urbano

O Ministério Público de Contas de Porto Alegre recebeu uma denúncia de entidades da sociedade civil relacionada a três leis municipais: Lei do Centro (930/2021), Lei do Arado (935/2022) e Lei de Regeneração do 4º Distrito (960/2022). De acordo com o documento, existe falta de conformidade com princípios legais, ausência de estudos econômicos e de medidas que possam preservar áreas históricas e culturais, bem como concessão de benefícios sem especificar os critérios adotados.

Leia Mais →

Lago Joaquina Rita Bier será requalificado em concurso de arquitetura

Importante espaço histórico do município, o Lago Joaquina Rita Bier será requalificado por meio de um concurso público nacional de arquitetura que está sendo promovido pela Prefeitura de Gramado com organização do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio Grande do Sul (IAB/RS). A iniciativa conta com atuação das secretarias de Planejamento, do Meio Ambiente e da Cultura. A coletiva de imprensa de apresentação do certame ocorreu nesta sexta-feira (15), no próprio Lago.

Leia Mais →

Outras Notícias

Gramado anuncia Concurso de Projeto de Arquitetura para requalificar entorno do Lago Joaquina Rita Bier

Atenção arquitetos de todo o Brasil, preparem suas equipes, pois a Prefeitura de Gramado (RS) realizará na próxima sexta-feira (15/09), coletiva de imprensa para o anúncio oficial do concurso público de arquitetura e urbanismo, com o objetivo de selecionar as melhores propostas para a requalificação do entorno do Lago Joaquina Rita Bier. O certame terá abrangência nacional e ocorrerá em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio Grande do Sul (IAB RS).

Leia Mais →

Núcleo Hortênsias do IAB/RS participa de encontro com o governador para falar sobre o Parque do Palácio

O tradicional Parque do Palácio, em Canela, na Serra Gaúcha, vem sendo tema de debates entre a prefeitura e entidades ligadas ao urbanismo e ao meio ambiente. A discussão retoma uma pauta antiga, que trata sobre a construção de um centro de eventos dentro do local, afetando importantes biomas que compõem a região. O núcleo Hortênsias do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento Rio Grande do Sul (IAB/RS), comunidade e autoridades participaram de uma audiência com o governador do Estado, Eduardo Leite, para solicitar maior atenção para o debate e apresentar um estudo ambiental.

Leia Mais →

Nota Pública: Prédio de 98,4m no Centro Histórico revela uma cidade sem rumo e sem respeito ao patrimônio cultural

O Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio Grande do Sul (IAB-RS) se soma ao debate dos últimos dias acerca do lançamento do empreendimento das empresas Melnick e Zaffari, no Bairro Centro Histórico, da capital gaúcha. O edifício de 98,4m no nível da Rua Duque de Caxias será o mais alto no skyline da região.  Ainda que tenha 8m a menos que o Edifício Santa Cruz, o nível da Rua Duque de Caxias se localiza 30m acima do nível da Rua da Praia, local do prédio mais alto da cidade.

Leia Mais →