Por Sabrina Ortácio
Prédio localizado no Centro de Porto Alegre é tombado pelo patrimônio histórico municipal
Quem por muitos anos cruzou pela esquina da Rua Riachuelo com a Rua General Canabarro, no Centro Histórico de Porto Alegre, notava parte do antigo casarão escondido em seus tapumes. Pois o cenário desse cruzamento está prestes a mudar. O Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio Grande do Sul (IAB-RS) começou esta semana o restauro tão esperado da fachada de seu Solar, que já foi morada do Conde de Porto Alegre entre 1855 e 1875.
A entidade está investindo o valor de R$ 400 mil, revela Rafael Passos, presidente do IAB-RS. Ele informa que essa é a maior obra realizada com recursos próprios, desde que a entidade se mudou para o local em 1999. A primeira etapa da obra foi em 2020 quando foram investidos R$ 100 mil em melhorias internas. “Isso só foi possível pelo esforço coletivo das últimas gestões, que permitiram colocar o IAB numa posição financeira positiva”, explica. O presidente informa que a previsão é que a obra seja concluída no máximo até agosto de 2023. “É uma alegria recuperar a fachada da rua Riachuelo, concluindo a relação do Solar com a rua e sua vizinhança”, destaca.
Passos revela ainda que a primeira intervenção feita pelo IAB, nessa mesma fachada, aconteceu logo que a entidade tomou posse do prédio de 921 m2, com recursos oriundos de parte da venda de sua antiga sede, próxima à Praça Dom Feliciano na Capital. Os recursos, porém, se esgotaram na época, e desde então o processo avançava na medida em que o caixa do Instituto permitia.
O arquiteto Lucas Volpatto, responsável pelo restauro, conta que, antes disso, o Solar passou por muitas reformas. Uma delas foi em 1930, quando o casarão foi vendido ao Governo do Estado, por 180 contos de réis. Neste processo, se perdeu muito da característica da arquitetura açoriana. “Desta vez, estamos dando continuidade no projeto de restauro feito inicialmente por colegas arquitetos em 1999, quando a fachada se encontrava em estado de ruínas”, explica Volpatto.
Ele informa que hoje a fachada da Rua Riachuelo está muito degradada, pois não passa por manutenção há 50 anos. “Vamos ter que refazer todo reboco e tentar salvar e manter os ornamentos mais clássicos que foram inseridos em 1930”, explica. Volpatto acrescenta que a equipe está tirando os moldes desses ornamentos para avaliar o que poderá ser feito. Sobre a cor do prédio, ele revela que será mantido o salmão que já é identidade do IAB.
A primeira etapa do processo de melhorias no casarão começou durante a pandemia, quando foi realizado o assentamento de 190m2 de assoalho de madeira, oriunda de uma apreensão do Ibama e beneficiada a partir de uma permuta. Na sequência, ocorreu também a renovação da pintura na fachada da Rua General Canabarro, além da revisão e atualização elétrica de todo o Solar.
Hoje, o Solar do IAB – RS está consolidado como um espaço cultural e de vibrantes debates sobre temas urbanos. Além de ser espaço para exposições e eventos culturais, a sede abriga cursos de arquitetura e urbanismo. “Temos um espaço que era uma casa, virou uma repartição pública e agora é um centro cultural, que assume uma nova linguagem”, destaca Lucas Volpatto.
Um pouco da história
Erguido por volta de 1835, o solar herdou o nome de um de seus residentes mais famosos. Manoel Marques de Souza, o Conde de Porto Alegre, foi uma figura vibrante na política e na sociedade da época, tendo atuado na Revolução Farroupilha e na Guerra do Prata, além de ocupar cargos no governo gaúcho. Em 1933 foi adquirida pelo governo do Estado e passou a funcionar como Quartel-General da Guarda Civil e, mais tarde, delegacia de polícia. Há indicativos de que o imóvel tenha sido usado como parte do aparelho repressivo da ditadura militar.