É comum os arquitetos sentirem-se acuados pelas circunstâncias trágicas do mercado profissional de serviços e condição de trabalho. Mais de um estudo de carreiras aponta a Arquitetura e Urbanismo como uma profissão marginalizada e desvalorizada em relação à remuneração e prestígio. De diversas formas nossas atribuições profissionais são usurpadas por indivíduos despreparados. A arquitetura, reduzida a acessório no negócio da construção, é colocada em um patamar inferior na escala de decisões das obras, em prejuízo do público. Todas essas mazelas e muitas outras, que dolorosamente suportamos, refletem-se também na valorização que no Brasil se dá à própria Arquitetura. Sabemos disso inclusive ao vermos nossas cidades se arruinarem por falta de qualidade na construção e planejamento, e até a possibilidade de receber assistência técnica para moradia, garantida em Lei Federal é sonegada à população de mais baixa renda. A insensatez de contratar-se serviços de arquitetura pelo preço, ou incluído num “pacote” junto com a terraplanagem e pintura nos suscitam a revolta e indignação. Parece que a decisão técnica nada tem a ver com o custo final da obra! A lei que estabelece salário mínimo profissional é solenemente ignorada. Sequer o serviço público é obrigado a cumpri-la. Os arquitetos empregados percebem menos que diversas outras categorias de nível superior para realizar muito mais trabalho. Os direitos trabalhistas assegurados a qualquer peão de obra são desconhecidos pelos arquitetos, que parecem não ter direito a descanso e não têm limite de trabalho. O mesmo poderíamos dizer quanto a férias, décimo terceiro salário, abonos e recolhimento de previdência, e mesmo carteira de trabalho assinada. Como indivíduos, que podemos fazer frente a essa realidade? De prático, muito pouco. Apenas unidos e em grupo podemos realizar qualquer mudança. Há quase noventa anos, comemorados no próximo Janeiro – o IAB foi criado exatamente para dar voz coletiva a tantas preocupações dos arquitetos. Em todas estas décadas o IAB fielmente cumpriu seus objetivos originais. Coroado por anos de luta, o IAB vê a vitória próxima com a aprovação da Lei que garante nossas atribuições profissionais e cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU. Mas a natureza da profissão se alterou muito, primeiro com a sua regulamentação em que fomos agrupados com outras profissões em um conselho multiprofissional – o “sistema CREA/CONFEA”, fonte de tantas agressões a nossas atribuições de parte de outras profissões. Depois, a natureza das relações de produção no Brasil sofreram a mais radical transformação adquirindo até então inimaginada complexidade. O IAB, com sua vocação generalista e universal não pode assumir todas as formas de representação, e por isso surgiram associações e representações mais especializadas. A representação sindical é uma destas. Ao contrário do IAB, que é uma associação civil, de caráter privado, um sindicato adquire prerrogativas de representação legal perante diversos órgãos públicos, como a justiça trabalhista e Delegacia do Ministério do Trabalho. O sindicato é uma agremiação importante e longe de ser um “concorrente” do IAB, deve ser seu maior aliado para o cumprimento de nossos objetivos como profissionais de Arquitetura e Urbanismo. O IAB e o Sindicato de Arquitetos deveriam ser entidades complementares na luta pela arquitetura e pelos arquitetos. Há anos, o Sindicato de Arquitetos do Rio Grande do Sul – SAERGS – caiu em grave decadência. Sem qualquer ação em benefício da categoria profissional que se propôs representar, o SAERGS preocupa, pois apesar de continuar cobrando a infame contribuição sindical que a lei ainda impõe – e que não é devida a quem é membro de outro sindicato – o SAERGS parece ter perdido o conhecimento de sua finalidade, nada mais fazendo. Mas haverá eleições em breve para renovar seus quadros e sua diretoria. O processo eleitoral é de vital importância, pois deflagra a oportunidade de transformação para ações sindicais que promovam melhorias concretas para a categoria. Já está se formando um movimento de arquitetos que deseja dar fim à acomodação e posicionar o SAERGS como entidade de classe atuante. Cabe a nós elegê-los, pois o Rio Grande é terra de gente honesta. É justo que seus representantes sindicais sejam correspondentes a nossas tradições. Em breve teremos a realização de nosso sonho, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo, e para isso é necessário que pessoas interessadas em algo mais do que jetons e salamaleques estejam à frente de nossas representações profissionais. Precisamos estar unidos, mas para isso é necessário que colegas saiam da inércia e juntem-se à luta justa em defesa de nossa profissão e nossos interesses. Carlos Alberto Sant’Ana Presidente do Departamento Rio Grande do Sul do Instituto de Arquitetos do Brasil

Lago Joaquina Rita Bier será requalificado em concurso de arquitetura
Importante espaço histórico do município, o Lago Joaquina Rita Bier será requalificado por meio de um concurso público nacional de arquitetura que está sendo promovido pela Prefeitura de Gramado com organização do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento do Rio Grande do Sul (IAB/RS). A iniciativa conta com atuação das secretarias de Planejamento, do Meio Ambiente e da Cultura. A coletiva de imprensa de apresentação do certame ocorreu nesta sexta-feira (15), no próprio Lago.